Nos últimos anos, o investimento em grandes empresas que cumprem com critérios ESG disparou. Mas ainda há muito caminho a fazer e mesmo as organizações de menor dimensão terão de fazer essa transição sob pena de começarem a ter maiores dificuldades de financiamento. Esta foi uma das conclusões da sessão das ESG Talks – um ciclo de conferências obre sustentabilidade ambiental, social e governança corporativa – realizada esta quarta-feira e que debateu de forma aprofundada os temas de Finanças Sustentáveis, Ecofundos e do Financiamento da transição energética.
“É um tema que está cada vez mais presente no nosso quotidiano”, constatou Luís Veiga Martins, Associate Dean for Community Engagement and Sustainable Impact da NOVA SBE. O setor financeiro terá um papel essencial para apoiar esta transição para uma economia de baixo carbono. “O papel dos bancos é importante e o quadro regulatório tem evoluído muito significativamente”, afirmou Luísa Soares da Silva. A administradora executiva do Novo Banco considerou que a banca tem um “papel catalisador para uma transição justa para uma economia de baixo carbono”.
Na Europa, a regulação tem evoluído para incentivar o setor financeiro a investir e a conceder crédito a empresas e projetos sustentáveis. Para já, as obrigações de reporte de critérios ESG aparentam estar circunscritas a empresas de maior dimensão. Mas isso vai mudar rapidamente: “A prazo, a obrigação de divulgação e de reporte vai estender-se a PME”, avisou a responsável do Novo Banco.
Atualmente não é fácil encontrar dados sobre como as empresas de menor dimensão se saem nos critérios ESG. E, assim, Luísa Soares da Silva apontou que, para o setor financeiro, “os maiores desafios são na procura de fontes alternativas de dados e em desenhar processos de apoio aos clientes para se prepararem e transitarem a processos de produção e modelos de negócio de baixo carbono”. A banca terá, cada vez mais, uma integração dos critérios ESG na análise de risco.
“Tsunami de regulação”
Apesar de existirem algumas áreas de atividade que à primeira vista aparentarem ser mais impactadas pela transição para uma economia de baixo carbono, essa transformação irá sentir-se de forma transversal, afirmou Ana Cláudia Coelho. A Sustainability and Climate Change Partner da PwC indicou que estas “são transformações de toda a economia que vão afetar todos os setores”.
Na Europa, a UE tem adotado medidas para incentivar a transição. Ana Cláudia Coelho classifica essas iniciativas como “um tsunami de regulação e de metas para as empresas”. É o reconhecimento de que “era essencial envolver o setor financeiro para financiar a transição”. A prioridade passa por “reorientar os fluxos de capital para os investimentos que fazem esta transição”. Realçou que “uma das ferramentas é a taxonomia, que tem o objetivo de trazer de uma forma transparente um conjunto de regras para classificar investimentos verdes”.
Apesar de atualmente estas exigências de divulgação se aplicarem sobretudo a grandes empresas, rapidamente esses requisitos se irão estender a mais organizações. A responsável da PwC realçou que “serão definidas regras de reporte para empresas com mais de 250 colaboradores”. Defendeu que este “não é um tema só para grandes empresas e para grandes poluidores”.
Em Portugal, o facto de a esmagadora maioria do tecido empresarial ser constituído por PME pode dificultar a tarefa de acesso aos dados que serão essenciais para assegurar financiamento a empresas e projetos sustentáveis. No entanto, Ana Cláudia Coelho notou que apesar de se ter demorado algum tempo, já se começam a observar empresas que emitem obrigações ou contraem outro tipo de financiamento ligados a critérios ESG. “Demorou algum tempo, mas hoje em dia já é uma prática comum”.
Guerra e pandemia não mudam o foco
Após o choque pandémico e a crise energética causada pela guerra na Ucrânia, Ana Cláudia Coelho considerou que continua a existir a consciência da necessidade de se fazer a transição para uma economia de baixo carbono.
“A pandemia e a guerra na Ucrânia não vieram trazer um desfoque”, disse a responsável da PwC. Considerou que esses choques “mostraram a fragilidade da nossa economia global e a dependência das cadeias de abastecimento e do acesso a energia”. Neste último ponto, a especialista considerou que esta crise foi um alerta de que se deve investir em renováveis para se garantir uma maior autonomia energética.