A minha mãe sempre levou o Dia das Mentiras muito a sério. Minha vítima preferida de enganos inocentes no dia a dia (como garantir-lhe que tínhamos deixado o carro no piso -3 do estacionamento de um centro comercial que só tinha dois pisos de garagem, por exemplo), tirava a desforra a 1 de abril. Num desses dias, em que eu tinha combinado uma sessão de bodyboard com o vizinho do rés-do-chão, acordou-me a dizer que o rapaz tinha torcido o pé e que, portanto, não podia ir. Tive uns segundos de desolação, até ela desabar a rir, vitoriosa. Ainda o dia mal tinha começado e já estava 1-0. Foi assim, imagino que não só assim, mas por agora chega, que fui aprendendo o que agora acredito que seja claro para a maioria dos adultos, pelo menos: que quanto mais simples, quantos mais pontos de contacto com a realidade tiver, mais uma mentira tem hipóteses de passar despercebida ao radar. (Nota: primeiro escrevi “todos os adultos” mas depois lembrei-me do príncipe da Nigéria…)
E é sobre isto esta newsletter. O Dia das Mentiras numa altura em que a mentira é a regra e não a exceção e se propaga das redes sociais, onde corre solta, para os meios de comunicação, vezes demais. Nem uma imagem, que era, à partida, um dado mais seguro, escapa. Nas primeiras horas a seguir a um terramoto não é incomum circularem imagens… de outro evento destrutivo qualquer, por exemplo.