A França, neste estranho ano de 2024, parece um comboio que entrou numa montanha-russa, destravado e em alta velocidade por entre altos e baixos, a fazer soltar, alternadamente, gritos de aflição e de satisfação aos seus passageiros. E, com um maquinista que, apesar da vertigem, insiste em manter-se seráfico e distante, permanentemente a jurar que continua aos comandos, com a mesma energia com que, em 2017, chegou à Presidência do país a anunciar o início de uma nova era: aquela em que se enterrava a tradicional divisão entre esquerda e direita, e se retirava qualquer possibilidade de crescimento à extrema-direita. Pura ilusão, como os capítulos seguintes demonstraram…
A verdade é que, em 2024, a política francesa transformou-se numa anedota para o resto do mundo e numa preocupação crescente para a Europa. Contas feitas, caso Emmanuel Macron consiga mesmo cumprir a promessa – proferida ontem à noite em mais um discurso na TV – de nomear um novo chefe de governo em “meados de dezembro”, os gauleses vão bater um recorde: quatro primeiros-ministros num mesmo ano. Iniciaram 2024 ainda com Elisabeth Borne, a que se seguiu Gabriel Attal (que, com 34 anos, foi o mais jovem de sempre naquele posto), que acabou por ser substituído, em setembro, por Michel Barnier (cujos 73 anos lhe deram o título de mais velho primeiro-ministro da Quinta República), que apenas durou três meses no cargo.
Pelo meio, o país continua sem orçamento, um crescimento económico anémico e com um défice superior a 6 por cento – mais do dobro daquele que seria aceitável segundo as regras europeias. O clima de agitação social é o “normal” em França: ainda ontem uma greve geral dos funcionários públicos demonstrou que os franceses mantêm o seu espírito revolucionário sempre presente. E, nos grandes temas internacionais, a França continua igual a si mesma: nos últimos dias tem sido, por pressão dos seus agricultores, o maior entrave à finalização do acordo Mercosul, que há duas décadas ocupa os negociadores europeus e sul-americanos para a criação de um acordo de livre comércio, cada vez mais urgente e fundamental no momento em que Donald Trump iniciar as suas políticas protecionistas na Casa Branca, em janeiro do próximo ano.
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