Estar na cauda da Europa traz-nos algumas vantagens – e o facto de termos apenas uma fronteira terrestre é, provavelmente, a maior dessas vantagens. Como não estamos no centro do Velho Continente, coração das duas guerras mundiais do século XX, também não estamos muito expostos a ventos e tempestades, conflitos e invasões. Em contrapartida, cruzamo-nos com muito menos gente, somos fechados no temperamento e cabisbaixos na atitude. Também é com facilidade que passamos despercebidos, somos calados e discretos e, por isso, quase que se esquecem de nós. Ainda por cima, nesta periferia, cantinho à beira-mar plantado, temos tendência para a melancolia, o que não é propriamente uma grande qualidade num mundo aberto e global.
Em 1985, Mário Soares sabia que o tratado de adesão nos amarrava ao Velho Continente e, por esse motivo, fez os impossíveis para nos meter na Europa. Declarou: “Não estamos mais isolados. A solidariedade europeia não nos faltará.” Em grande medida, é por culpa da posição geográfica que, para o bem e para o mal, tudo chega tarde a Portugal (a rima é pobre, mas é o que se arranja, sobretudo quando a veia poética é pouco apurada).