Faz hoje 113 anos, na Rotunda – o local de Lisboa onde se faziam os pronunciamentos militares – um oficial da Armada, António Machado dos Santos, nascido em Goa, membro da Carbonária – um braço da Maçonaria – foi o único rebelde das forças terrestres que continuou a acreditar no triunfo da revolução republicana, mesmo quando tudo parecia perdido. Quando todos já tinham baixado as armas, ele resistiu, bombardeou alguma unidades fiéis à Monarquia (do outro lado, por seu turno, Paiva Couceiro era o único que acreditava no triunfo das forças monárquicas…) e acabou por descer, no dia seguinte, até à Baixa Pombalina, em triunfo, aclamado pelos populares. De uma certa maneira, ele foi o Salgueiro Maia do 5 de Outubro. Vale a pena resumir como tudo aconteceu, e como a República acabou por ser implantada sobre um limbo de equívocos, a começar pelos que, do lado da monarquia, achavam que estava tudo perdido, e os que, pelo lado da República, já tinham desistido de tentar. Um dos conspiradores, o médico Miguel Bombarda, fora assassinado na véspera, a 3 de outubro de 1910, alegadamente, por um dos seus doentes. Era um mau presságio. Mas Bombarda não foi o único conspirador a morrer: o almirante Cândido dos Reis, ao ver que os revoltosos recuavam ou não apareciam, suicidou-se, no dia 4, julgando que a revolução fracassara. Nessa manhã, Cândido dos Reis preparava-se para entrar numa embarcação mercante, para se dirigir ao navio almirante e assumir o comando dos vasos de guerra. Mas um desconhecido, ofegante, aparece a correr, esbaforido, afirmando que tudo está perdido, que as tripulações continuam fiéis à Coroa. A falsa informação, somada ao absentismo de oficiais que deveriam comparecer naquele local e àquela hora, e ao derrotismo de muitos outros, leva o almirante Reis ao desespero. Volta para casa e dá um tiro na cabeça.
Era um revés importante. A Revolução vacilava, órfã de comando. Mas, na Rotunda, não havia quaisquer notícias do sucedido. Mesmo assim, sem comunicações (nem reforços…), julgando-se isolados e derrotados, alguns oficiais optam pela retirada. São apenas 500 homens contra 7 mil efetivos governamentais. E é então que Machado Santos vive a sua hora dourada: “Eu fico! Quem fica comigo?”
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