Como estamos no tempo delas, vem a propósito escrever que não são só as conversas que são como as cerejas. Há notícias que, sem terem nada que ver umas com as outras, acabam por se relacionar, recordando-nos de como, afinal, funciona a vida real (leia-se, extra-loop noticioso, bolhas e redes sociais). Pois quis o acaso que o início do Campeonato da Europa de futebol feminino – cujo pontapé de saída é dado hoje à noite, no estádio de Old Trafford, em Manchester – coincidisse no tempo com a notícia dos vencedores da Fields Medal. Habitualmente apelidado de “o Nobel da Matemática”, o galardão estava previsto ser entregue em São Petersburgo, mas a invasão da Ucrânia pelo regime de Putin originou uma mudança de local. A cerimónia acabou por decorrer, ontem, em Helsínquia, na Universidade Aalto e, entre os quatro medalhados, encontrava-se a ucraniana Maryna Viazovska.
Maryna Viazovska nasceu há 37 anos em Kiev e trabalha na Escola Politécnica Federal de Lausane, na Suíça. Ganhou a Fields Medal (juntamente com Hugo Duminil-Copin, James Maynard e June Hug), por causa da sua investigação sobre a organização de esferas de oito e 24 dimensões, que pode beneficiar, por exemplo, a rapidez de transmissão de dados. Há momentos da vida particularmente felizes: Viazovska está à espera do seu primeiro filho, que deverá nascer muito em breve. Soube da medalha enquanto fazia umas renovações em casa e, ao jornal britânico The Guardian, relatou o episódio de forma descomprometida: “Peguei no telefone, para o usar como lanterna, para verificar se tinha estragado a pintura da parede ou não. E foi aí que reparei que tinha recebido um e-mail para fazer uma chamada de zoom. Suspeitei logo o que podia ser.”