No final do século XIX, a monarquia portuguesa acreditou que poderia manter e alargar as suas possessões em África, a pretexto de conter o expansionismo das outras potências europeias no continente. Para tal, congeminou um plano para unir os seus territórios austrais, do Atlântico ao Índico, de Angola a Moçambique. Como sabemos, esse sonho imperial, o mapa cor de rosa, nunca se concretizou por manifesta incapacidade do Governo de Lisboa e sobretudo porque a Alemanha e o Reino Unido não deixaram.
Ao vencer as legislativas deste domingo com uma maioria de 747 mil votos sobre o PSD/PPD de Rui Rio, António Costa e o Partido Socialista pintalgaram o mapa português de uma forma surpreendente. Durante a campanha, nenhuma sondagem previu que os socialistas conquistassem 117 deputados na Assembleia da República e que os sociais-democratas ficassem reduzidos a 71. Pela terceira vez na história da democracia, os eleitores optaram, de forma categórica, por entregar os destinos do país a uma só formação política e ao respetivo líder. Depois de Cavaco Silva e de José Sócrates, entramos agora numa nova e imprevisível era. O homem que é primeiro-ministro desde 2015 foi o primeiro a afirmar que uma “maioria absoluta não é poder absoluto”, nem “vai pisar o risco”, o que só lhe fica bem. Esperemos que nunca se esqueça dessas declarações nos próximos quatro anos. Rui Rio, o putativo líder da oposição, já se disponibilizou para ceder o cargo a uma personalidade laranja que saiba fazer frente a esta “maioria fofinha”, como lhe chamou Filipe Luís, editor executivo da VISÃO. No entanto, como costumam dizer os adeptos da bola, isso é poucochinho. Os problemas do PSD não passam apenas por quem está no topo da hierarquia. O partido criado por Sá Carneiro terá de reinventar-se e aprender a estar na oposição, algo que pode demorar ainda algum tempo, com ou sem o atual líder.
VISÃO DO DIA: Costa e o novo mapa cor de rosa
