“A conjuntura política e económica portuguesa dos últimos anos, tem acentuado uma atitude de aceitação tácita de quase tudo, pela assumpção de que as restrições são necessárias e não deixam alternativa. Tal postura conduziu a uma evidente dormência da sociedade portuguesa, a qual se reflecte na escassa intervenção de muitos cidadãos que poderiam contribuir para o enriquecimento da sua democracia. Se é verdade que o risco da indiferença é hoje um fenómeno universal, já que a avalanche dos problemas aparentemente sem solução se revela maior do que a nossa “capacidade de carga”, desde as guerras, à fome, à discriminação social, à degradação irreversível do meio ambiente, a verdade é que tudo se agravará certamente com a nossa indiferença, com a falta de participação individual pela mudança, partilhando convicções, saberes e vontades para construir uma outra sociedade, pacífica, justa e solidária.
Os últimos tempos foram especialmente difíceis para os portugueses. Abalaram-se, sucessivamente, as instituições que simbolizam as nossas referências tradicionais de estabilidade e organização social. Questionou-se a seriedade dos protagonistas políticos, governantes e autarcas, das forças de segurança, a idoneidade das instituições universitárias, a moral da igreja e pôs-se em causa a isenção da própria justiça. Questionar a integridade moral e o alicerce social que representam todas estas instituições, favoreceu um crescente sentimento de impotência e só poderia conduzir ao esmorecimento e à apatia generalizada entre os cidadãos.
No meu caso particular, a promoção do ambiente e da conservação da natureza, têm motivado com mais vigor a minha participação cívica. Entendo que a preservação destes valores é fundamental para garantir o equilíbrio ecológico e, portanto, uma sociedade saudável e viável. Apesar deste empenho, a verdade é que não fiquei imune ao manto de letargia que se instalou. Tenho plena consciência que as questões ambientais serão sempre marginalizadas enquanto subsistirem os graves problemas sociais e económicos que flagelam a humanidade e os quais não temos conseguido eliminar ou mesmo minimizar. A crescente magnitude e o perpetuar de tais problemas, fazem, naturalmente, com que o risco de ficar indiferente aos problemas ambientais seja ainda maior.
O risco de ficarmos indiferentes é um dos problemas mais graves que actualmente enfrentamos e que nos pode inibir de participar na transformação do país. Mas não pode haver conjuntura política ou económica que nos desmobilize de uma intervenção activa enquanto cidadãos livres e empenhados nas (nossas) causas colectivas. Somos todos e cada um, a força útil e necessária para traçar os caminhos da justiça social e da solidariedade e as forças vivas do desenvolvimento sustentável.”