Houve em tempos uma mulher,
mãe de um único filho,
que lhe disse, concluídos apenas os 18 anos,
que lhe daria, como legado, tudo o que tinha,
com a condição que havia de o repartir na totalidade,
por quem mais necessitasse.
E ainda o serenou,
tomando-o pela mão,
que caso viesse a encontrar-se em dificuldade,
regressasse a casa.
O filho aceitou o desafio.
Recebeu de sua mãe tudo o que tinha
e partiu,
determinado a distribuir,
por quem encontrasse aflito,
o que lhe tinha sido confiado.
Mas para espanto de muitos, lá na terra,
o filho começou a voltar a casa
repetidas vezes,
fazendo tesouro,
não só do que tinha recebido da mãe,
mas de outra tanta e extraordinária riqueza,
que se multiplicava,
lhe trazia indizível felicidade,
e que, por isso,
fazia questão de a partilhar pessoalmente com a mãe.
Com o passar dos anos,
a fortuna foi-se tornando ainda maior.
Mas o que tornava o regresso a casa,
ainda mais frequente,
já não era estranhamente a alegria do sucesso.
Eram a perda de saúde, a depressão, a solidão…,
quem chamava constantemente pelo aconchego da mãe
Apesar do incumprimento,
a mãe nunca lhe exigira a herança de volta.
Também nunca nada comentara
que o filho não soubesse ou recordasse.
Um dia, estando muito doente em casa, e quase sem forças,
voltou a partir, desta vez, porém, para nunca mais voltar.
Apenas o veríamos passar de fugida por casa da mãe,
para a assegurar,
que tinha finalmente conseguido cumprir a promessa,
e lhe sussurrar, num abraço feliz de despedida,
que quando tudo se partilha e se dá, sem receio ou medo algum de se ficar sem nada, o que se tem de volta é de verdade o que todos normalmente mais temem perder: liberdade, saúde, segurança, felicidade, alegria, amigos, trabalho…