Numa das idas à praia com o meu grupo de amigos, conheci um rapaz e estou interessada nele. Ele tem 21 anos, menos três que eu, é atraente, descontraído e faz-me rir. E temos gostos comuns.
Senti-me tão à vontade com ele que fui eu a beijá-lo. Soube a pouco. Eu quero mais, mas será que devo? A minha melhor amiga diz que não. “Ir para a cama com alguém logo nos primeiros encontros pode ser má estratégia para começar um namoro”.
Embora eu tenha a experiência, com outros rapazes, de as coisas irem acontecendo sem esta rapidez, a verdade é que o desejo e apetece-me ser fiel ao que sinto agora.
Corro o risco de parecer fácil?
Anabela, Alcoitão
O início da vida adulta é um convite à descoberta do que nos é próprio: a capacidade de desejar, de ir ao encontro e de fazer escolhas, aceitando a possibilidade e a responsabilidade de ser o protagonista da sua vida. Comprometer-se é o desafio: ser fiel ao desejo e, simultaneamente, a outras necessidades pessoais (por exemplo, segurança emocional), nem sempre é fácil, porque nem sempre andam de mãos dadas.
A pressão que sente para inibir ou reprimir movimentos espontâneos pode estar ligada à consciência social, que ainda parece negar, ainda, a igualdade de género, como sugere o conselho bem-intencionado da sua amiga. “Fácil” igual a descartável, porque teoricamente disponível à primeira volta (eventualmente, com qualquer um). É um mito, com raízes culturais profundas, que não se aplica ao universo masculino.
A ciência encarregou-se encontrar as razões que estão na base da repressão do desejo feminino: em termos evolutivos, ele sempre foi visto como uma ameaça à ordem social vigente. Hoje, o desejo feminino é socialmente valorizado mas, nos centros mais primitivos do cérebro, essa memória da espécie permanece: “Mais vale ficar quieta (fazer-se difícil) do que dar o ouro todo ao bandido”.
Desde que esteja consciente de que sexo é uma coisa e romance é outra, nada parece indicar que deva retrair-se sexualmente. Adiar a gratificação pode tornar o desafio mais interessante para algumas pessoas, por alimentar o jogo de sedução, sem que isso tenha de significar um compromisso. Este é mais provável quando existe um maior grau de conhecimento do par e uma consciência partilhada das escolhas que levam cada um a entrar numa relação dita mais séria (envolvimento emocional, afectivo).
Toda a experiência é válida, desde que seja fiel a si e franca com o outro, quando ao seu grau de envolvimento e expectativas. Ou seja, quanto à decisão a tomar agora e a outras, que a esta se sigam. Se o sexo vem antes ou depois, parece irrelevante. Basta pensar nas grandes histórias de amores e de paixões para perceber isso: não há fórmulas para a diversidade humana, nem na sexualidade, nem nos afectos. A melhor forma de lidar com o “estigma”, mito ou preconceito, está menos na obediência ao “que deve ser” e mais, como diria a cantora brasileira Sueli Costa, em ser senhora de si.