O dia foi cansativo por culpa da missa de acolhimento no Parque Eduardo VII que, com o antes e o depois, acabou a prolongar-se pela tarde toda. E agora que o Sol está a ir-se, o vento norte não dá clemência, que é como quem diz, vai tudo pelo ar.
Quando poderíamos pensar que as condições não estavam reunidas para uma noite no areal da praia de Carcavelos, pois o grosso do movimento era no sentido contrário, daqueles que se vestiam no final de um dia de veraneio, eis que aparece um animado grupo de cerca de uma dezena de polacos a residir em Chicago, nos EUA, com idades entre os 18 e os 22 anos.
Indiferentes ao vento cortante e à água fria – agosto, onde estás tu? – chegaram com o sol já escondido no horizonte, alguns correram para a água e outros chapinharam à beira-mar. Riram muito, como só conseguem rir as pessoas despreocupadas.
Ouviram a mensagem do Papa no Parque Eduardo VII e agora gozam a horinha que o coordenador lhes deu de tempo livre e sem vistoria adulta. Vieram de autocarro, o mesmo que os leva e traz todos os dias da terra aonde estão a dormir, a uma hora de caminho – ninguém conseguiu soletrar o nome. “O meu telefone está morto”, repetiram vários deles, justificando a impossibilidade de irem pedir ajuda ao Google Maps. Já de camisolas vestidas, com o relógio a contar, partiram à procura de um restaurante para jantarem.
Não é por acaso que a vigilância nas praias da Linha foi reforçada de 28 de julho a 11 de agosto. Normalmente, Carcavelos tem 18 nadadores salvadores, a trabalharem das 9 às sete da tarde, até à bandeira ser retirada. Durante este período quente da JMJ, passaram a ser 26 nesse horário, mais 9 até às 21 horas e quatro de sentinela até de manhã. Tal como aqui, houve reforços em São Pedro, Poça, Tamariz, Conceição e Guincho.
Os holofotes viraram-se para esta equipa depois do acidente com o peregrino croata que tive de ser socorrido na sequência de um mergulho mal dado (ainda está internado com diagnóstico reservado e em risco de ficar tetraplégico).
Pedro Braz, um dos coordenadores desta equipa da associação Brave Heart, nota que, apesar de a meteorologia não se mostrar tão favorável quanto se esperava para este início de agosto, as praias têm estado bastante movimentadas. Por isso, fazem rondas de uma ponta à outra do areal, apeados ou na moto4, sempre numa postura de prevenção e de explicação de riscos. “Noutro dia, às onze da noite demos por um grupo de seis peregrinos na água, já quase sem pé.”
João Pinheiro, outro dos coordenadores, tem notado que as diferentes nacionalidades que aqui aparecem – sobretudo espanhóis – não estão habituadas às regras das nossas praias e é preciso fazer didatismo, de noite e principalmente de dia. De resto, são miúdos sossegados e não criam problemas de maior, “Não há grupos problemáticos, tudo se resume a golpes de calor e hipoglicémias”, desdramatiza João.
De facto, os grupos que fomos encontrando ora no areal, ora nos bancos ou no paredão, estão sossegados. Aproveitam apenas os ares da praia, pois muitos deles vivem longe do mar. É o caso do espanhol José Laso, 26 anos, que está sentado na areia, de guitarra apoiada nas pernas a dar música ao silêncio da noite. Já esteve na Jornada de Cracóvia, mas gosta mais desta, pois considera que tudo é mais parecido com Espanha. Daqui a nada, há de partir com os seus amigos mexicanos para Cascais, onde estão alojados.
Mais à frente, e dando consistência às palavras do nadador salvador, encontramos mais espanhóis. Estão todos juntos num grande grupo, perto de um dos túneis de saída da praia. Alguns usam a bandeira vermelha e amarela para os ajudar a melhor suportar o frio da noite, especialmente depois de terem ido ao banho e se queixarem da temperatura da água. Aqui, trocam risos e conversam alto, como só os espanhóis o fazem, antes de cumprirem com o recolher obrigatório das onze da noite no colégio em que estão a dormir, a 15 minutos de distância, a pé. Amanhã é outro dia de Jornada e, tal como hoje, ameaça ser cansativo.