Na semana passada, um grande estudo publicado pela revista médica The Lancet veio trazer algum choque na área do cancro – a doença está a aumentar de forma galopante e todas as conquistas e os avanços no que diz respeito aos tratamentos não têm parado o crescimento do número de novos casos. Mas aqui está a nuance que faz toda a diferença: os diagnósticos aumentam brutalmente (e irão continuar assim até 2050), mas apesar disso o número de mortes tem mais do que se lhe diga e parece estabilizar. A Ciência, afinal, faz o seu caminho.
A nova análise do Global Burden of Disease Study 2023, com dados de 204 países e territórios, incidindo sobre 47 tipos ou grupos de cancro, mostra que desde 1990 o número de casos da doença mais do que duplicou, chegando agora aos 18,5 milhões de pessoas. Nas projeções para 2050, os casos chegarão aos 30,5 milhões.
Madalena d’Orey, 54 anos
Uma vida de causas

A infância da fundadora da Terra dos Sonhos, associação que acompanha, cuida e realiza os desejos de pessoas em situação vulnerável, foi passada entre casa, escola e Instituto Português de Oncologia de Lisboa. Um rabdomiossarcoma, tumor maligno grave e raro diagnosticado aos 9 anos, não deixou Madalena d’Orey brincar e aprender como as restantes crianças da sua idade. A sua adolescência foi passada sem dar prioridade ao que é costume. Sobreviver estava em primeiro lugar.
Chegada à remissão no início da idade adulta, Madalena foi sócia fundadora da Acreditar – Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro. “Aprendi que o mais poderoso é dizer: ‘Eu sei o que sentes, já estive nesse lugar.’” Depois fundou a Terra dos Sonhos, mas as marcas da sobrevivência ficaram lá: a dor, o cansaço físico e mental, o medo da recidiva que não dá tréguas quando tem uma dor, faz um exame ou tem uma consulta. Quando sofria com dores de cabeça, achava que tinha cancro no cérebro e uma massa na barriga valeu-lhe um grande susto. Pensava: “E se acontecer outra vez…?”