O autor do livro Por Dentro do Chega – A Face Oculta da Extrema-Direita em Portugal, Miguel Carvalho, antigo jornalista da VISÃO, foi um dos dois repórteres que a fábrica de notícias falsas do partido de André Ventura mais perseguiu. Já antes de uma peça que foi capa da VISÃO, em novembro de 2022, O Braço Armado do Chega, sobre a infiltração do partido da direita radical e populista nas forças de segurança, ele e Pedro Coelho, da SIC (que fazia parte do consórcio de jornalistas de investigação no âmbito do qual aquele e outros temas foram investigados), foram objeto de comunicações internas numa estratégia para atacar os repórteres da investigação que tanto incomodava o Chega. No seu livro, Miguel Carvalho, que tinha sido, recentemente, pai pela segunda vez, descreve: “Em 2022 ‘fizeram-me’ homossexual, amante do meu camarada Pedro Coelho, companhia de Paulo Portas nas sessões noturnas dos cinemas de Lisboa, correio da droga e agente de Cuba e da Venezuela em Portugal.” Não se sabe, como se diz no livro, se os dirigentes do Chega leram o Manual para um Rebelde, de Gustavo Morales, autor ligado a falangistas espanhóis e editado, em Portugal, por um “companheiro de estrada” do Chega: “O importante no boato é que, com economia de meios absoluta, pode chegar a ter consequências insuspeitas e ajuda a deslegitimar os valores, instituições e pessoas do sistema.”

Nas suas investigações, suculentamente desenvolvidas neste autêntico “livro-bomba”, que traz à luz do dia muitos documentos, testemunhos e factos inéditos, frequentemente sórdidos, que estão na génese da formação do Chega e da sua implantação, o então jornalista da VISÃO tinha-se tornado uma espécie de “inimigo público nº 1” do Chega. Mas, durante cinco anos, ainda assim, conseguiu penetrar nas entranhas do Chega, estabelecer contactos, relações e até as cumplicidades necessárias para garantir a melhor informação sobre o interior secreto do partido que tinha vindo para arrasar o sistema. Como conseguiu?
