O Centro Ismaili de Portugal, na avenida Lusíadas, em Lisboa, começou a ser construído a 18 de dezembro de 1996 (e inauguraria em julho de 1998) com votos para que este lugar fosse mais do que um ponto de encontro dos ismailis portugueses. “Um testemunho duradouro do nosso compromisso com vista a um relacionamento longo e frutuoso com Portugal”, desejou então o príncipe Karim Aga Khan (Mawlana Hazar Imam, para os ismaelitas), descendente do profeta Maomé.
Só em Portugal estima-se que existam oito mil dos cerca de 15 milhões muçulmanos xiitas ismaelitas espalhados por mais de 25 países. São uma comunidade com elevado estatuto social e poder económico, com importantes ligações ao mundo dos negócios, como a família proprietária do Grupo Azinor, onde se incluem os hotéis Sana, ou os irmãos Sacoor, fundadores da multinacional de vestuário com o mesmo nome.
Os muçulmanos xiitas ismaelitas são uma duas principais correntes religiosas do Islão (a outra é o sunismo) e abrangem uma grande diversidade de culturas, línguas e nacionalidades. Regem-se por uma Constituição estabelecida em 1986 e retificada, em 1998, em Lisboa, a sede mundial da comunidade (desde 2015). E representam uma minoria religiosa que se distingue por ser a única a prestar devoção a um Imã vivo, que é designado de forma hereditária desde a morte do profeta Maomé.
Na capital portuguesa, a comunidade está muito ligada a projetos de voluntariado, à semelhança do que acontece noutras geografias. O príncipe multimilionário fundou e preside à Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, uma organização que apoia várias causas desde a educação, à exclusão social e à pobreza, em mais de 30 países, nomeadamente, em Portugal. País escolhido pelo príncipe para estabelecer a sua residência oficial e para celebrar o seu jubileu de diamante (60 anos à frente da comunidade).
A Fundação Aga Khan é presença ativa no País desde 1983, emprega aqui cerca de cem pessoas e apoia projetos em várias áreas. Em 2017, doou meio milhão de euros para ajudar a reconstruir casas afetadas pelos incêndios de Pedrógão Grande. A Fundação foi reconhecida por decreto-lei, em 1996, por altura da construção do Centro Ismaili em Lisboa (18 mil metros quadrados projetado pelos arquitetos Raj Rewal e Frederico Valsassina com inspiração oriental, que incluem referências portuguesas, por exemplo, ao Mosteiro dos Jerónimos ou à Sala Árabe do Palácio Nacional de Sintra).
Origens
A comunidade ismaelita tem origem no século VIII, como uma ramificação dos xiitas, mas este termo já surgia no Livro de Génesis, na Bíblia, para se referir aos descendentes de Ismael, filho mais velho de Abraão. Começa por ser retratada enquanto minoria nómada e discriminada. Todavia, o cenário inverteu-se e os ismaelitas são hoje tidos como uma das comunidades com melhores condições de vida entre os muçulmanos.
A representação mundial em Lisboa aconteceu graças a um acordo assinado a 3 de junho de 2015 – mais de uma década desde que outros países, como o Canadá, disputavam a atenção do príncipe, oferecendo benefícios fiscais e outras regalias em troca dos avultados investimentos da família. Portugal destacou-se, no entanto, por ter sido o primeiro Estado não muçulmano a assinar acordos com o Imamat (o Estado sem pátria dos xiitas): primeiro em 2005 e depois em 2009, reconhecendo-lhe um estatuto semelhante ao Vaticano.
(Artigo publicado originalmente a 28 de março de 2023, quando o centro foi alvo de um ataque)