No triste dia em que o Fausto nos deixou, senti-me na obrigação de deixar umas palavras sobre ele nas minhas páginas nas redes sociais. Acabava a dizer “sabia-o doente, mas é sempre um choque quando a morte bate à porta de um amigo, e nem pede para entrar”. A consternação do momento. E antes, elaborava assim: “O que há de tão especial e único no Fausto (notável, como ele gostava de dizer) é o facto de ele ter criado um estilo pessoalíssimo, uma estética inspirada na música de raiz portuguesa, nos ritmos e até instrumentação própria, acrescentando a modernidade da sua forma de tocar a guitarra acústica, também ela pessoal e quase intransmissível. Cimentou esta estética nessa obra-prima chamada Por Este Rio Acima, que está e estará sempre em lugar de honra na história da música portuguesa. Qualquer música.
De certo modo, ironicamente, o Fausto foi sempre seguindo (e perseguindo) a cartilha que ele próprio criou, com regras estritas e rigorosas, a que pouco fugia. Talvez a aventura dos Três Cantos tenha sido um pouco a excepção, porque entrecruzou três universos, e porque teve a batuta do
Zé Mário Branco a dar-lhe uma unidade comum e particular. Um momento único para nós três, de tão boa memória.”
Não falei ali de O Namoro, que lhe “roubei” e gravei antes de ele próprio o fazer. Muitas vezes, quando a cantava, era tida como minha, e eu próprio a sentia quase como minha. Mas fazia sempre questão de precisar que se tratava de um poema de um angolano, Viriato de Cruz, musicado pelo Fausto. Aquele “Aí Benjamim!” ecoou em muitas salas deste país, e até em Cabo Verde, Angola, Moçambique.
As canções dele (letras e músicas) continuam, e continuarão, a ecoar num lugar especial da nossa sensibilidade.
O Fausto é para durar.
*Sérgio Godinho
Músico. Em 2024 percorreu o País com o espetáculo Liberdade