Desde que foi anunciada a vitória republicana nas eleições norte-americanas que a plataforma social X, detida por Elon Musk, tem vindo a registar um grande êxodo de utilizadores. De figuras bem conhecidas do público, a órgãos de comunicação internacionais, vários utilizadores estão a abandonar a plataforma na sequência do apoio mostrado pelo dono da Tesla a Donald Trump – que lhe valeu uma nomeação para administração republicana – e do papel desempenhado pela rede social na disseminação de conteúdos que considerados discriminatórios e incitadores ao ódio. Outras mudanças levadas a cabo nas políticas e funcionamento da app nos últimos meses – como o restabelecimento de contas banidas ou a alteração do sistema de verificação (agora premium) – também levaram muitas pessoas a procurar alternativas ao anterior Twitter.
Esta “migração” de utilizadores online levou a que plataformas como a Bluesky ou o Threads, do Instagram, tenham registado, nas últimas semanas, um maior crescimento, tendo já alcançado a liderança do top de aplicações gratuitas mais descarregadas da App Store da Apple. O X encontra-se na 46ª posição.
O fluxo de novos utilizadores, sobretudo de pessoas da América do Norte e do Reino Unido, levou a Bluesky a alcançar já os 20 milhões de utilizadores do mundo inteiro. De acordo com um relatório divulgado pela empresa Similarweb – a mesma que registou a saída de 115 mil utilizadores do X num só dia – a Bluesky teve um aumento na ordem dos 519% de utilizadores dos Estados Unidos na semana de 5 de novembro comparativamente aos primeiros dez meses de 2024. Já no Reino Unido, o crescimento foi de 352 por cento. “[A Bluesky] tornou-se um refúgio para as pessoas que querem ter o tipo de experiência nas redes sociais que o Twitter costumava proporcionar, mas sem todo o ativismo de extrema-direita, a desinformação, o discurso de ódio, os bots [perfis falsos] e tudo o resto”, disse Axel Bruns, investigador de redes sociais ao The Guardian.
Mas esta não foi a primeira vez que a Bluesky ganhou utilizadores vindos do X. Em agosto deste ano, após a proibição da rede social no Brasil, a plataforma ganhou cerca de 2,6 milhões de utilizadores, dos quais, segundo a empresa, 85% eram brasileiros.
O que é a Bluesky?
Criada em 2019 por Jack Dorsey, a Bluesky começou como um projeto de microblogging dentro do próprio Twitter. O objetivo, segundo o Dorsey – também fundador do Twitter – passava por, com uma “pequena equipa independente” de apenas alguns trabalhadores, “construir um padrão aberto e descentralizado” para as plataformas sociais.
Em 2021, a app passou para a liderança de Jay Graber, diretora executiva da plataforma, que permanece no cargo até hoje. Depois do processo de compra do Twitter por Elon Musk, em 2022, a empresa tornou-se um projeto independente e “propriedade da própria equipa, sem qualquer participação detida pelo Twitter”. Contudo, e apesar de Graber garantir que detém o “maior controlo” no trabalho desenvolvido na plataforma, a mesma é gerida como sendo de utilidade pública dos Estados Unidos.
“A Bluesky é uma rede social aberta que dá aos criadores independência das plataformas, aos programadores a liberdade de construir e aos utilizadores uma escolha na sua experiência”, lê-se numa publicação dos criadores.
???? Bluesky is an open social network that gives creators independence from platforms, developers the freedom to build, and users a choice in their experience. We’re so excited to have you here! We share Bluesky updates & news from this account. A quick orientation thread: ????✨
— Bluesky (@bsky.app) October 17, 2024 at 8:06 AM
Como funciona?
Até ao início deste ano, a aplicação era fechada apenas a convidados, tendo sido disponibilizada totalmente em fevereiro. Muito semelhante ao X, a Bluesky manteve um funcionamento e linha estética muito idênticos à app original. A plataforma de microblogging permite aos seus utilizadores interagirem através de publicações (chamados skeets) – até 300 caracteres – que podem ser alvo de “gostos”, comentários ou partilhas, à semelhança do que acontece noutras redes sociais. É ainda possível enviar mensagens diretas a outros utilizadores e partilhar fotografias.
Todas as publicações surgem na “skyline” – nome dado à página inicial (ou feed) – da aplicação que, organizada por ordem cronológica, é personalizável. De acordo com a empresa, a Bluesky é “personalizada para o que gosta de ver, ao mesmo tempo que lhe dá uma visão do que é tendência na rede”. O utilizador pode escolher o tipo de conteúdo que quer que surja na sua “skyline”, optando por conteúdos no feed de “descoberta” – publicados por qualquer pessoa -, conteúdos de apenas as pessoas que segue (os conhecidos “mutuals”) ou até escolher dividir o conteúdo que consome por assuntos e temas.
Outra novidade são os “pacotes de iniciantes” que qualquer pessoa pode subscrever e que oferecem uma lista de pessoas com os mesmos interesses, organizada por outros utilizadores. Estas listas são especialmente úteis para o utilizador seguir os assuntos por que mais tem interesse ou até para bloquear pessoas com conteúdos com os quais não quer interagir. A rede permite ainda que o utilizador personalize totalmente o seu “handle”, criando um domínio próprio para cada pessoa.