Seja a tricotar, pintar ou a fazer peças em cerâmica. Não é segredo para ninguém que a prática de trabalhos manuais – ou qualquer passatempo ou hobby – ajuda a relaxar e contribuem para uma boa saúde mental. Agora, um novo estudo científico, realizado por um grupo de investigadores da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, confirmou este facto ao revelar que a realização de atividades manuais – desde o origami ao macramé, passando pela carpintaria – têm um impacto positivo na saúde mental, comparável ao efeito de ter um emprego. Segundo o estudo, a prática de atividades que permitam explorar a criatividade são muito benéficas, uma vez que permitem aumentar “a sensação de que vale a pena viver, assim como a felicidade e a satisfação com a vida”.
“De facto, o impacto do artesanato foi maior do que o impacto de estar empregado. O artesanato não só nos dá uma sensação de realização, como também é uma forma significativa de auto-expressão, o que nem sempre é o caso do emprego”, referiu Helen Keyes, autora do estudo, num comunicado da Universidade.
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Para o estudo foram analisadas respostas de uma amostra com mais de sete mil pessoas – com mais de 16 anos de idade – no âmbito de um inquérito denominado “Taking Part”, realizado pelo Ministério da Cultura, dos Media e do Desporto do Reino Unido. Para o questionário – que teve por objetivo analisar o impacto de atividades como a costura ou a pintura – foi pedido a cada participante que classificassem – numa escala de um a dez – sensações de felicidade, ansiedade e satisfação com a vida bem como a sua opinião sobre se a vida valeria a pena. Os resultados do estudo foram publicados na revista Frontiers in Public Health.
Segundo as suas conclusões, 37,4% da amostra estudada referiu já ter participado em pelo menos uma atividade criativa nos últimos doze meses e, assim, sentirem-se mais satisfeitos com a vida. De acordo com os investigadores, o aumento desta sensação foi tão significativo como o facto de possuírem uma atividade profissional. “O envolvimento nestas atividades está associado a uma maior sensação de que a vida vale a pena, a uma maior satisfação com a vida e à felicidade. Os efeitos de bem-estar estavam presentes mesmo depois de termos tido em conta fatores como a situação profissional e o nível de privação”, explicitou Keyes.
A investigadora referiu ainda que os resultados mostram também o peso que significa para as pessoas não terem um trabalho ou de não possuírem uma profissão que considerem gratificante. “Esta foi, provavelmente, a nossa descoberta mais interessante, porque certamente pensamos que temos muito do nosso valor por causa de um emprego”, explicou.
O grupo de investigadores avaliou ainda que, quando praticados a preços acessíveis, os trabalhos manuais podem revelar-se um instrumento importante para melhorar a saúde em geral. Embora os trabalhos manuais sejam utilizados há muito tempo para ajudar a saúde mental, os especialistas afirmam que a maior parte da investigação analisou o seu efeito em doentes e não na população em geral, e tende a analisar atividades específicas. “Se fossemos um serviço nacional de saúde, ou um governo, ver um aumento de 2% no bem-estar geral da nossa população seria realmente significativo a nível nacional”, defendeu.