Arben Kaçorri, 52 anos, um dos principais nomes da máfia dos Balcãs, vivia há 11 anos num prédio de luxo no Parque das Nações, em Lisboa. Condenado em Itália, a quase 22 anos de prisão por homicídio, Kaçorri passava despercebido, nunca interrompendo a sua atividade criminosa. No mesmo prédio, apenas um andar acima, vivia o luso-brasileiro Ícaro Leddy Gouveia (que também tem passaporte holandês), de 48 anos, um operacional da Mocro Máfia, conhecida como máfia marroquina, mas que atua, principalmente, nos Países Baixos.
Em conjunto, os dois homens lideravam uma rede dedicada ao tráfico internacional de droga, que atuava em Portugal e nos Países Baixos. E tudo era decidido e coordenado a partir daquele prédio.
Na madrugada do passado dia 3, a Polícia Judiciária (PJ), através da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE/PJ), desmantelou a organização criminosa. Em comunicado, a PJ explica que a operação – a que se deu o nome de “Labirinto” – “foi realizada simultaneamente nos dois países e permitiu desmantelar a infraestrutura do grupo de crime organizado indiciado por tráfico de droga, participação em organização criminosa, rapto, tomada de reféns e sequestro”.
Arben Kaçorri e Ícaro Leddy Gouveia permanecem, hoje, vizinhos, embora tenham mudado de morada para a cadeia de alta segurança de Monsanto, em Lisboa, onde aguardam o desenvolvimento das investigações em prisão preventiva. De acordo com a PJ, foram apreendidas “elevadas quantidades de dinheiro, vários veículos topo de gama, bens de luxo, sistemas de comunicações e diverso equipamento informático” que pertenciam aos detidos.
A PJ refere ainda que esta organização praticava “vários crimes violentos que visaram tomar posse da droga através do uso da força e com recurso a armas de guerra”. “Dado o grande potencial económico da organização, os seus membros dispunham de fortes medidas de segurança e autoproteção, nomeadamente de meios avançados de transmissão de informação, tanto a nível individual como o utilizado no uso de contra medidas policiais”, lê-se na nota.
Apesar de refugiados em Portugal, as autoridades acreditam que esta união entre máfia dos Balcãs e Mocro Máfia – organização que tem sido associada ao assassínio do jornalista holandês Peter R. de Vries, em julho de 2021, e a ameaças de morte à casa real neerlandesa e à sua herdeira, a princesa Catharina-Amalia – operava, sobretudo, no estrangeiro. O tráfico internacional de cocaína tinha como epicentro os portos de Roterdão e de Antuérpia, na Bélgica.
Um (assassino) albanês em Lisboa
Durante a última semana, o nome de Arben Kaçorri permaneceu desconhecido – ao contrário do de Ícaro, exposto na comunicação social. Considerado “muito perigoso”, vivia, na capital portuguesa, uma vida discreta e de luxo.
Cunhado de Ervis Martinaj, um famoso gangster albanês, conhecido como o “Rei do Jogo”, que está desaparecido desde agosto de 2022., Kaçorri, de 52 anos, pertence a uma longa linhagem ligada a organizações criminosas (o seu irmão, Valentino, também está referenciado como membro da máfia dos Balcãs).
Em maio de 2009, foi condenado em Itália a 21 anos e oito meses de prisão, pelo homicídio qualificado do compatriota Fatmir Kala, em Florença, e ainda por posse e porte ilegal de armas. A sentença tornou-se irrevogável em outubro de 2010, depois do seu (último) recurso ter sido indeferido. As autoridades italianas, porém, nunca não mais conseguiram localizar Kaçorri para que cumprisse a pena.
O albanês ainda beneficiou de um indulto de três anos, mas continua a ter de cumprir 18 anos e oito meses de reclusão por aquele crime. A Itália deve pedir, em breve, a extradição do condenado ao Estado português. Ainda na sequência desta condenação, 15 bens de Kaçorri foram confiscados, em dezembro do ano passado, por decisão de um tribunal albanês. O narcotraficante perdeu edifícios comerciais, apartamentos, terrenos e garagens, todos localizados na capital Tirana e arredores.