Ao seu último livro, A Vida na Selva (Quetzal, 160 págs., €16,60), recentemente publicado, Álvaro Laborinho Lúcio chamou-lhe uma “autobiografia oculta”. Pretexto apetecível para desocultar a vida cheia de um homem, hoje com 82 anos (ninguém lhos dá, tal a boa forma que exibe), que foi ministro da Justiça (1990-1995), juiz-conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça (agora jubilado), ministro da República para a Região Autónoma dos Açores (na Presidência de Jorge Sampaio), diretor do Centro de Estudos Judiciários, a escola de formação dos magistrados, durante uma década (1980-1990), e procurador-geral adjunto ao longo de um quarto de século.
Na entrevista que se segue, ficamos a saber que, por vontade do pai, o menino Álvaro foi para a escola primária dos “pés descalços” na Nazaré, e que aí encontrou “os amigos verdadeiros, aqueles que nunca mais se largam”. Que foi “um cábula” no ensino básico e secundário. Que causou uma crise familiar quando, após concluir o 7.º ano, disse aos pais que queria ir “para o teatro”. Que, como estudante de Direito na Universidade de Coimbra, esteve “à beira de um problema sério” com a PIDE. Que “não foi fácil” ser ministro da Justiça no último governo de Cavaco Silva. Que é um social-democrata com “alguma simpatia” pela extrema-esquerda libertária e preocupado com a ascensão da extrema-direita. E que considera que o sistema de Justiça está a falhar “rotundamente”. A palavra a Laborinho Lúcio, “sportinguista convicto” e guarda-redes que “cumpria os mínimos”.