Ao fim de quase 15 dias de detenção sem qualquer medida de coação aplicada, nos corredores do Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa (TCIC) suspira-se, ainda que com muita ironia, pelo regresso do juiz Carlos Alexandre. “Está perdoado”, comentou à VISÃO uma fonte judicial, referindo-se à prolongada demora dos interrogatórios judiciais aos três detidos por suspeitas de corrupção na Madeira. À hora de fecho desta edição, o juiz de instrução tinha terminado o interrogatório do segundo arguido ouvido, o empresário Avelino Farinha. Na quarta-feira, iniciou a audição de Pedro Calado, ex-presidente da Câmara Municipal do Funchal, admitindo-se, a este ritmo, que as medidas de coação só sejam conhecidas no início da próxima semana.
Foi no último movimento judicial que Jorge Miguel Bernardes de Melo, 53 anos, assumiu o lugar de J1 do TCIC, ocupado, nos últimos anos, por Carlos Alexandre, depois de ter passado pelos tribunais de Vila Nova de Famalicão, Sintra e Évora. Logo nos primeiros dias, após as detenções de 24 de janeiro, os advogados dos três arguidos detidos (além dos já referidos, há ainda um empresário de Braga, Custódio Correia) perceberam que o ritmo dos trabalhos seria bem diferente daquele a que estavam habituados com o chamado “superjuiz”, apesar de, na maioria dos casos, não concordarem com a decisão final. É que, feitas as identificações, mesmo prescindindo da leitura das cerca de 80 páginas do despacho de indicação dos crimes, as defesas e o Ministério Público tiveram de suportar quase quatro horas de leitura do documento. “Até muitas das 250 notas de rodapé”, acrescentou fonte judicial, indicando que os três arguidos aguentaram toda a leitura em pé. “Um magistrado muito picuinhas, atento a todo e qualquer pormenor, seja no processo ou até na ata da diligência, tudo tem de ser visto e revisto”, descreveu à VISÃO uma fonte que tem acompanhado os interrogatórios.