Por boas e más razões, a Igreja esteve quase sempre na berlinda durante o ano de 2023. Se seguirmos a linha do tempo, verificamos que a polémica começou logo no final de janeiro, quando o jornal Observador revelou que o altar-palco que, em agosto, na zona oriental de Lisboa, receberia o Papa Francisco estava orçamentado em 4,2 milhões de euros, uma obra adjudicada à Mota-Engil por uma empresa municipal. Desde então, a dita estrutura passou a ser conhecida como “o palco dos milhões” e a polémica deu origem a uma discussão acerca do retorno económico de um evento que há muito estava a ser preparado, mas do qual, na verdade, apenas os fiéis estavam a par: Lisboa iria acolher a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o maior encontro de jovens católicos de todo o mundo, estando prevista a vinda de mais de um milhão de peregrinos.
Além da questão financeira, sobre a qual a maioria dos portugueses está hoje relativamente pacificada (ver caixa Polémicas, quais polémicas?), o debate acerca do custo do palco revelou também as ineficiências de uma organização dividida por quatro entidades e quatro orçamentos: Estado, Câmara Municipal de Lisboa, Câmara Municipal de Loures e Igreja (através de uma fundação criada para o efeito, presidida pelo então bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar). Andámos meses nisto: estaríamos perante (mais) um caso em que o erário público iria ser desbaratado? Quem estava atento às derrapagens financeiras? O impacto do evento justificava esse tipo de investimentos na cidade?