Vários são os estudos que evidenciam os benefícios de ter animais de estimação, tanto para a saúde mental como física: ter um cão pode, por exemplo, fazer com que, diariamente, se pratique até mais 30 minutos de exercício e ter um gato pode reduzir os níveis de stress.
Além disso, os animais de estimação são associados a uma maior socialização, até mesmo entre gerações diferentes, e à promoção de vínculos saudáveis, ajudando a reduzir a solidão: tornam-nos mais ativos e predispostos a passar mais tempo ao ar livre.
Estudos também afirmam que cuidar de um animal bebé estimula a responsabilidade e a morte de um amigo de quatro patas pode ser o primeiro contacto com a morte para a maioria das crianças e até alguns jovens adultos, proporcionando um poderoso ensinamento sobre o amor e a perda.
E investigações realizadas durante a pandemia de Covid-19 concluíram que os animais de estimação foram muito “úteis” durante o período de quarentena e isolamento social.
Contudo, numa revisão de 54 estudos, apenas em 31% deles foi identificada uma relação positiva entre ter animais de estimação e a saúde mental dos donos. Já 9% deles registaram, pelo contrário, relações negativas.
E agora, um estudo recente que incluiu mais de 750 participantes de todo o mundo e pretendia perceber que papel os animais de estimação tiveram durante a pandemia para os seus donos, sugere que, afinal, ter um animal de estimação não ajuda necessariamente os donos a sentirem-se bem.
Os investigadores explicam que, embora as respostas qualitativas dos donos relativamente aos seus animais durante as entrevistas tenham sido maioritariamente positivas, as associações quantitativas entre ter animais de estimação e o bem-estar foram próximas de zero.
O que concluiu o novo estudo
Para chegar a estas conclusões, a equipa realizou entrevistas aos voluntários relativamente aos seus animais de estimação, com perguntas, por exemplo, sobre o número de animais que tinham e a sua relação com eles; ao mesmo tempo, fez questões relativas à personalidade dos seus donos e ao seu bem-estar emocional, em maio de 2020.
Entre as perguntas aos participantes, de nacionalidades maioritariamente norte-americana, espanhola e canadiana, os investigadores incluíram também a seguinte possível reflexão: “Se quiser dizer algumas palavras sobre como ter um animal de estimação foi útil ou não para si durante o período da pandemia, sinta-se à vontade para fazê-lo aqui”.
A partir das respostas, a equipa chegou à conclusão de que, na maior parte dos casos, ter um animal de estimação “não prevê” o bem-estar dos donos, e fatores como o número e tipo de animais de estimação, a relação entre eles e os donos e a as suas caraterísticas pessoais não tinham impacto, no geral.
Contudo, a equipa notou pequeas associações entre ter um cão e o bem-estar, como já tinham concluído estudos anteriores: ter este animal foi associado a uma maior satisfação com a vida, a uma maior propósito de vida e a menor depressão.
No entanto, os investigadores referiram que os efeitos encontrados desapareceram após a equipa ter em conta as características de personalidade dos donos.
Isto sugere, de acordo com a equipa, que as pessoas com maior nível de bem-estar são mais propensas a ter cães ou que aquelas com determinadas características como a extroversão são mais felizes e têm maior probabilidade de possuir cães, ao invés de os cães tornarem as pessoas mais felizes.
Mais investigações são necessárias
Relativamente aos benefício de se ter uma animal de estimação, 33% dos voluntários falaram sobre as emoções positivas associadas ao seu animal, 19% enfatizaram o companheirismo, 15% o carinho e 13% a realização de mais exercício físico.
Além disso, 7% referiram ainda lidar melhor com o stress e problemas de saúde mental com os seus animais e 3% disseram que se sentiam mais apoiados emocionalmente.
A equipa do estudo, publicado no Sage Journals, explicou ainda que embora os aspetos negativos de se ter um animal de estimação tenham sido mencionados muito raramente, ajudaram a explicar porque é que ter animais de estimação não é necessariamente preditivo de maior bem-estar: 6% dos participantes mencionaram sentir culpa e 4% falaram sobre a perda dos seus companheiros, que provoca sentimentos negativos.
Já 2% referiram que ter um animal de estimação interfere com o seu trabalho e a mesma percentagem admitiu que a saúde pode ser afetada devido a falta de sono e a preocupação constante. Os custos financeiros também foram abordados por 1% dos voluntários.
A equipa concluiu também que a adaptação hedónica – tendência que os humanos têm para regressarem rapidamente a um nível relativamente estável de felicidade, embora ocorram eventos que alterem a vida – pode desempenhar um papel importante: ou seja, inicialmente, os animais de estimação podem criar uma maior felicidade aparente, mas mais tarde as pessoas habituam-se aos seus animais de estimação e regressam às suas emoções anteriores.
De acordo com Karen Wu, professora de psicologia na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, EUA, e que não esteve envolvida no estudo, para perceber se os animais de estimação melhoram ou não o nosso bem-estar “seria necessário realizar uma experiência cuidadosamente controlada”. Mas “tal estudo teria considerações éticas importantes e limitações metodológicas devido ao efeito placebo, ou seja, as pessoas podem relatar maior bem-estar porque acreditam que um animal de estimação é bom para elas”, escreve, no Psychology Today. “Portanto, o mistério (…) continua, mas uma coisa é clara: as pessoas não devem presumir que adquirir um animal de estimação as tornará mais felizes”, remata.