Um recente estudo publicado na revista iSciente analisou a capacidade que os pombos têm para a resolução de problemas e concluiu que a espécie de aves possui estratégias de aprendizagem semelhantes às utilizadas pela inteligência artificial. Segundo os investigadores, o animal demonstrou ser capaz de corrigir erros de associação e de aprender através de consequências, características semelhantes aos métodos que os sistemas de inteligência artificial utilizam. Muitas vezes vistos como pragas urbanas, os pombos são, ao contrário da fama popular que têm, animais muito inteligentes, capazes de reconhecer caras e aprender caminhos complexos. “O comportamento dos pombos sugere que a natureza criou um algoritmo que é altamente eficaz na aprendizagem de tarefas muito exigentes. Não necessariamente com a maior velocidade, mas com grande consistência”, explicou Edward Wasserman, um dos investigadores envolvidos no estudo e professor de psicologia experimental na Universidade de Iowa.
A amostra do estudo, que envolveu 24 pombos, foi exposta a vários estímulos e avaliada a sua capacidade de resolução de problemas visuais. Através de experiências por tentativa e erro – sendo o animal recompensado com comida apenas a cada resposta correta – os pombos envolvidos no estudo melhoraram a sua habilidade em fazer as escolhas certas de 55% para 95%, em tarefas simples, e para 68% em tarefas complexas. Através dos dados recolhidos os investigadores concluíram que os pombos possuem dois tipos de aprendizagem: por tentativa e erro e aprendizagem associativa – que consiste na associação entre dois fenómenos como a compreensão entre “água” e “molhado”.
O modelo de inteligência artificial dos investigadores enfrentou as mesmas tarefas utilizando os mesmos mecanismos e, tal como os pombos, mostrou a mesma capacidade de resposta aos desafios colocados. “Só com estes dois mecanismos, é possível definir uma rede neural ou uma máquina de inteligência artificial para resolver basicamente estes problemas de categorização. É lógico que os mecanismos que estão presentes na inteligência artificial também estão presentes no pombo “, referiu Brandon Turner, líder do estudo.
Os investigadores esperam agora colaborar com outros cientistas, cuja área de estudo se centre na compreensão dos pombos, de forma a conduzir investigações futuras. “O modelo associativo, que se ajusta perfeitamente ao comportamento de categorização dos pombos, fornece um apoio sem precedentes à aprendizagem associativa como um mecanismo viável para dominar estruturas de categorias complexas e para que os pombos utilizem este mecanismo para se adaptarem a um mundo visual rico. Este modelo ajudará a orientar futuras investigações neurocientíficas sobre os substratos biológicos da cognição visual”, pode ler-se nas conclusões do estudo.