A formiga de fogo vermelha, ou Solenopsis invicta, uma das espécies invasoras mais difíceis de combater, que figura na lista de “espécies preocupantes” da União Europeia, parece ter chegado à Europa. E veio para ficar.
Originárias da América do Sul, estas formigas gostam de calor e, ao longo do último século, espalharam-se pelos Estados Unidos da América, México, Caraíbas, China e Austrália. Apesar de já ter sido encontrada em produtos importados em Espanha, na Finlândia e na Holanda, até agora, nunca se tinha provado que colónias de Solenopsis invicta estivessem, efetivamente, presentes nos ecossistemas europeus.
Porém, um estudo, publicado a 11 de setembro na revista científica Current Biology, identificou 88 ninhos desta espécie, espalhados ao longo de cinco hectares de terreno, perto de Siracusa, cidade italiana localizada na ilha da Sicília.
Além de se mostrarem preocupados pela propensão que a Solenopsis invicta tem em disseminar-se rapidamente, os investigadores sublinham que tal disseminação poderá ser facilitada pelo clima que existe atualmente no velho continente.
É que, com o aquecimento global, a Europa tornar-se-á muito mais adequada para esta espécie, que forma “supercolónias” com múltiplas rainhas, favorecendo a sua propagação. Os autores defendem que a espécie poderia estabelecer-se em aproximadamente 7% do continente europeu.
“Mostramos que metade das áreas urbanas europeias já apresentam condições adequadas [à sobrevivência das formigas] e que o aquecimento climático esperado, tendo em conta as tendências atuais, irá favorecer a expansão desta formiga invasora”, lê-se no artigo. As consequências, além das picadas dolorosas, capazes de causar reações alérgicas na pele, passam pela capacidade que o animal tem de danificar plantações e infestar quipamentos elétricos, incluindo carros e computadores.
Em declarações à revista Science, Bernard Kaufmann, ecologista e especialista em pragas da Universidade Claude Bernard Lyon 1, que não esteve envolvido no estudo, sublinhou que, caso fossem libertadas na Europa continental, “e ainda mais em todo o Mar Mediterrâneo”, as formigas de fogo vermelhas seriam “devastadoras”. O ecologista assegura que “o custo para as economias humanas e para o bem-estar seria enorme.”
De acordo com análises genéticas realizadas no âmbito do estudo publicado na Current Biology, as colónias invasoras podem ter vindo da China ou dos Estados Unidos da América. Apesar de não se saber exatamente como e quando é que as formigas chegaram a Itália, os autores do estudo acreditam que as rainhas voadoras possam ter entrado através do porto de Siracusa, ajudadas pelo vento.
Em 2014, um grupo de investigadores do Instituto de Tecnologia da Georgia, nos EUA, havia descoberto que estas formigas são capazes de unir os corpos para construir balsas impermeáveis e permanecer a flutuar durante meses. Os responsáveis pelo estudo mais recente aconselharam uma monitorização atenta da zona do porto de Siracusa.