Após a vitória de Joe Biden, a Novembro de 2020, Enrique Tarrio, o antigo dirigente do grupo de extrema-direita, usou as redes sociais para partilhar o seu descontentamento com a derrota de Donald Trump, que queria que permanecesse no cargo.
Os procuradores divulgaram no julgamento uma série de documentos e mensagens que mostram como Tarrio e outros membros elaboraram um plano para tomar o Capitólio a 6 de janeiro de 2021, com mensagens de texto secretas e o planeamento de equipas de 50 homens.
O objetivo dos Proud Boys era impedir o Congresso de certificar a eleição do Presidente democrata Joe Biden, que Trump insiste ter sido o resultado de uma fraude generalizada.
Enrique Tarrio, condenado por conspiração sediciosa, deverá ser sentenciado na terça-feira, dia 5, enquanto Ethan Nordean, condenado pela mesma acusação, será sentenciado esta sexta-feira.
Dois outros membros, Joseph Biggs e Zachary Rehl, também partilham a mesma acusação.
“Proud boys, stand back, and stand by”
A frase proferida por Donald Trump em direto na televisão a setembro de 2020 fortaleceu o grupo formado durante a propagação do movimento alt-right (refere-se a uma ideologia ou movimento político de extrema-direita) em 2016.
Os Proud Boys, exclusivamente masculinos, apelidam-se de “chauvinistas ocidentais” que “se recusam a pedir desculpa por terem criado o mundo moderno”.
Katherine Keneally, especialista em violência política no Instituto para o Diálogo Estratégico, em Londres, citada pela Sky News, diz na que base da fundação do grupo está um “clube de rapazes que bebem”.
“Mas o que vimos, especialmente com o surgimento de Trump, é que isso mudou de um clube de bebida para eles irem para as ruas, particularmente em protestos relacionados com a Covid, protestos de justiça racial e envolverem-se em violência com os manifestantes”, acrescenta.
Keneally explica que “eles consideravam-se, nalguns aspetos, como o próprio exército do presidente” e que a frase infame de Trump em direto na televisão “causou uma mudança imediata no seu comportamento, com o grupo encorajado pela crença de que tinha o apoio do então presidente”.
“Encher os edifícios de patriotas e comunicar as nossas exigências”
O documento “1776 Returns” revela o plano dos Proud Boys que, de acordo com os procuradores, foi enviado a Tarrio.
Os procuradores alegam também que Tarrio recebeu o documento “1776 Returns” de um indivíduo não identificado, que lhe disse: “A revolução é mais importante do que tudo.” “Encher os edifícios de patriotas e comunicar as nossas exigências”, diz o plano.
Os objetivos mencionados passam pela manutenção do controlo “sobre um pequeno número de edifícios selecionados, mas cruciais, na área de Washington durante um determinado período de tempo” e o posicionamento do “maior número possível de pessoas dentro desses edifícios”.
O documento enumera oito alvos: o Supremo Tribunal, o Russell Senate Office Building, o Dirksen Senate Office Building, o Hart Senate Office Building, o Cannon House Office Building, o Longworth House Office Building, o Rayburn House Office Building e a CNN.
Na secção do documento intitulada “Manpower Needs” (necessidades de mão de obra, em português), o documento apresenta cinco funções diferentes, entre líderes, infiltrados, um “hypeman” com a tarefa de “liderar os cânticos e manter a presença/energia”, recrutradores e “patriotas”.
Numa audiência que durou um dia inteiro, na passada terça-feira, em Washington, o juiz Timothy J. Kelly rejeitou as premissas de vários arguidos para anular os veredictos do júri. As alegações de que o motim de 6 de janeiro teria sido instigado por informadores do governo eram “especulativas e fantasiosas” e as acusações de má conduta do governo no caso eram “sem mérito e não apropriadas por uma questão de puro profissionalismo”.
Enrique Tarrio, Ethan Nordean, Joseph Biggs e Zachary Rehl foram considerados culpados de conspiração sediciosa e de conspiração para obstruir um processo oficial.
Os procuradores federais pediram a Kelly que condenasse Joseph Biggs a 33 anos de prisão e a 30 anos o coarguido Zachary Rehl.
As recomendações excedem a sentença mais longa proferida até à data pelos ataques ao Capitólio.