Como acontece em quase tudo na vida, há sempre duas maneiras de olhar para a realidade: no caso dos abusos sexuais de crianças na Igreja Católica portuguesa, um assunto que tanta polémica tem suscitado em vários países nas últimas décadas, digamos que é possível olhar para a questão de forma otimista, mas também é possível abordar o assunto de maneira bem mais pessimista.
Comecemos pela primeira: seguindo as orientações de “tolerância zero” do Papa Francisco, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) encomendou um estudo ao pedopsiquiatra Pedro Strecht. Os resultados da investigação levada a cabo pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica foram divulgados em meados de fevereiro deste ano, revelando que, pelo menos, 4 815 crianças foram vítimas de abusos sexuais, em Portugal, ao longo dos últimos 70 anos. A comissão – que também integrou outros especialistas, como a socióloga Ana Nunes de Almeida, o médico psiquiatra Daniel Sampaio e o juiz conselheiro Álvaro Laborinho Lúcio – ressalvou, no entanto, que apenas foram captadas “as pontas de vários icebergues”. Dos 512 testemunhos validados por estes especialistas, 25 foram remetidos para o Ministério Público.