A venda de um imóvel da Altice na Rua da Moeda, em Lisboa, a 22 de agosto de 2019, terá sido mais do que uma mera transação imobiliária de favor para com o empresário Hernâni Vaz Antunes. A investigação da Operação Picoas suspeita de que o negócio serviu também para pagar contrapartidas a um gestor francês da empresa Cisco Systems que, através de uma representante, a Aciernet, era fornecedora do grupo e terá pago cerca de 50 milhões de euros a uma sociedade de Vaz Antunes a coberto de um contrato de intermediação. Vários documentos judiciais a que a VISÃO teve acesso ajudam a desvendar muitos segredos deste processo que, além de Vaz Antunes, levou à detenção do cofundador da Altice, Armando Pereira, de Jéssica Antunes e de Álvaro Gil Monteiro.
Identificado no processo como Olivier Duquesne, este quadro da Cisco terá recebido várias contrapartidas por parte de Hernâni Vaz Antunes para se manter como intermediário entre a Cisco e o grupo Altice. De acordo com o procurador Rosário Teixeira, a contratação de uma empresa de Vaz Antunes terá sido mesmo “condição para a Cisco ser um fornecedor” do grupo cofundado por Armando Pereira, que o MP suspeita ser, juntamente com Hernâni Vaz Antunes, o beneficiário de uma teia de negócios e relações pouco claras à volta de uma das maiores empresas mundiais de telecomunicações.