Talvez este não seja o melhor momento para sublinhar o esquecimento a que estão votadas a figura e a obra de Aquilino Ribeiro. Afinal, a pretexto dos 60 anos da morte do escritor, foi recentemente divulgado um ambicioso programa nacional que dura até maio de 2024, com organização dos municípios de Moimenta da Beira, Paredes de Coura, Sernancelhe e Vila Nova de Paiva, em parceria com a Fundação Aquilino Ribeiro. Estão previstos colóquios, exposições, atividades nas escolas, roteiros de turismo literário e gastronómico, reedições de algumas obras com novos prefácios… Ou seja, mais uma vez, à boleia de efemérides no calendário, tenta-se dar vida e novos leitores a personalidades que estão na sombra, esquecidas por muitos. Aquilino é um caso à parte. Durante anos, ao longo do século XX, era a bitola com que se comparava qualquer bem-sucedido novo romancista (sobretudo os que se aventuravam, como Fernando Namora, a descrever realidades portuguesas fora da capital), o “grande ficcionista posterior a Eça de Queirós” (nas palavras do crítico literário Óscar Lopes); era, e ainda é, visto como padrão do bem escrever português, do superior domínio da língua com toda a sua riqueza lexical (Mário de Carvalho, por exemplo, não se cansa de, em várias entrevistas, recordar e enaltecer a escrita de Aquilino).
Há um mal-entendido muito frequente em quem olha, à distância, e superficialmente, para o que evoca o nome deste escritor: facilmente o associamos só a um Portugal telúrico, provinciano, beirão, rural e meio selvagem, devido à temática de uma boa parte dos seus textos literários. Mas a vida de Aquilino Ribeiro ultrapassa, e muito, essa dimensão ligada às terras onde nasceu e às quais muitas vezes regressava.