A ministra da Justiça húngara, Judit Varga, decidiu autorizar a extradição do brasileiro Sérgio Roberto de Carvalho para os países que apresentaram, formalmente, aos tribunais, a intenção de levar a julgamento aquele que é considerado o principal narcotraficante do Brasil (e um dos maiores do mundo), apurou a VISÃO, junto de fonte próxima do processo.
O Major Carvalho – como também é conhecido (devido ao seu passado na Polícia Militar brasileira) –, detido desde junho de 2022, numa prisão em Budapeste, deve ser entregue primeiro à Bélgica, na sequência do mandado de prisão europeu emitido contra ele. O famoso narcotraficante terá ainda de responder às acusações de que é alvo nos Estados Unidos da América e Brasil.
Recorde-se que Sérgio Roberto de Carvalho foi preso, em junho de 2022, quando tomava o pequeno-almoço num hotel localizado próximo do Parlamento de Budapeste, junto às margens do Danúbio, onde estava alojado com um passaporte mexicano em nome de Guilhermo Diaz Flores (ver o momento no vídeo abaixo).
A detenção surgiu na sequência de um “alerta vermelho” da Interpol, emitido por um tribunal brasileiro, em novembro de 2020. De acordo com essa notificação, o “Escobar brasileiro” – como também é chamado (numa referência ao famoso narcotraficante colombiano Pablo Escobar) – é acusado de ser o responsável pelo tráfico de 45 toneladas de cocaína do Brasil para a Europa, entre 2017 e 2019, e de ter branqueado milhões de dólares através de diversas empresas fictícias.
As autoridades belgas acusam Sérgio Roberto de Carvalho de ser o verdadeiro dono de um carregamento de 1,3 toneladas de cocaína, encontrado, em agosto de 2021, a bordo de um jato privado de matrícula turca, que já se encontrava na pista do Aeroporto Internacional de Fortaleza Pinto Martins, no Brasil, preparado para descolar rumo a Bruxelas. A carga estava avaliada em €65 milhões.
No âmbito dessa operação, as autoridades brasileiras detiveram os dois ocupantes da aeronave: Angel Alberto Gonzalez Valdes, engenheiro espanhol, 60 anos, que residia em Liège, também na Bélgica, e o turco Velo Demir, 48 anos, ex-piloto da companhia aérea Turkish Airlines. Angel Alberto Gonzalez Valdez morreria, apenas três meses depois, num hospital-prisão, vítima de doença prolongada.
O Major Carvalho é ainda acusado de usar o porto de Antuérpia para importar quantidades indeterminadas de cocaína sul-americana para o continente europeu.
Passado em Portugal
O ex-major da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul, no Brasil, terá liderado, durante décadas, uma rota de tráfico de cocaína que ligava a América do Sul e a Europa, com Portugal a servir (em muitas ocasiões) como “porta de entrada” para o Velho Continente, como contou a VISÃO numa grande reportagem de investigação publicada em março de 2021.
Sérgio Roberto de Carvalho, que se encontrava a monte desde 2020, terá chegado a viver escondido em Lisboa – onde terá sido proprietário de escritório e apartamentos, na Avenida da República. Localizado pela polícia portuguesa, terá conseguido fugir, deixando para trás quase 12 milhões de euros em notas, guardados em malas no porta-bagagens de uma carrinha estacionada na garagem de um apartamento de luxo na Avenida da Liberdade, situação que continua em investigação.
Em fuga, terá pasado por muitos outros países, como Espanha, Ucrânia ou Dubai. Usou diferentes identidades e terá, inclusive, simulado a própria morte para fugir à Justiça espanhola. O jogo do “gato e do rato” terminou em Budapeste, na Hungria.
Entre as muitas suspeitas que recaem sobre si, Sérgio Roberto de Carvalho foi também associado ao caso do avião Dassault Falcon 900, propriedade da Omni, empresa privada de transporte aéreo sediada no Aeródromo de Cascais.
No dia 10 de fevereiro de 2021, no interior da fuselagem da aeronave, foi encontrado mais de meia tonelada de cocaína, numa altura em que o avião já se preparava para voar entre Salvador e Tires – da lista de passageiros, recorde-se, constava o nome do ex-presidente do Boavista João Loureiro (que, entretanto, seria ilibado pela investigação da Polícia Federal brasileira).