A Polícia Judiciária (PJ) deteve um cidadão estrangeiro, de 72 anos, no aeroporto de Lisboa, na posse de cinco litros de ayahuasca – a bebida psicadélica, popular entre as tribos amazónicas da América do Sul, associada a experiências místicas e transcendentais. O líquido era transportado, dissimulado, no interior da mala de viagem deste homem.
Em comunicado, a PJ esclarece que “a detenção ocorreu no âmbito de atuações que têm em vista a prevenção e repressão da introdução de produtos estupefacientes e substâncias psicotrópicas em território nacional”. Apesar de, segundo a polícia, recaírem “fortes suspeitas da prática de um crime de tráfico de estupefaciente” sobre o detido, o homem, presente a primeiro interrogatório judicial, acabaria por ficar em liberdade.
Existem informações que dão conta que, há já vários anos, se realizam em Portugal cerimónias com ayahuasca, em retiros privados. As sessões serão conduzidas por curandeiros que chegam da Amazónia. Confirmação oficial, essa, não existe…
Ayahuasca: o chá dos “mortos”
A ayahuasca é produzida a partir de duas plantas amazónicas – uma liana conhecida como mariri (banisteriopsis caapi) e as folhas de uma árvore chamada chacrona (psychotria viridis), cujo princípio ativo é a dimetiltriptamina, um alucinógeno que faz parte da lista de substâncias proibidas pela Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas (Viena, 1971).
Os estudos realizados, desde a década de 1980, têm vindo a dividir os especialista sobre quais as reais consequências do consumo de ayahuasca. Existe quem defenda o seu potencial terapéutico para tratar problemas como a depressão e a ansiedade; há quem o veja como um caso grave de saúde pública. A bebida, porém, tem vindo a ser proibida nos países europeus. No Brasil, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) autoriza a utilização da substância para fins religiosos, desde 2010.
O consumo de ayahausca – que se traduz, em linhas gerais, por “liana dos mortos”, em quéchua (a língua dos incas) – encontra-se associado a práticas religiosas, possuindo potencial alucinogénio capaz de provocar alterações na consciência por períodos prolongados; normalmente, cerca de 10 horas.
Muito popular na região de Ucayali, no Perú, o chá dos curandeiros das tribos amazónicas atrai pessoas provenientes de todo o mundo, que viajam até à localidade de Pucallpa, sobretudo, para poderem ter a experiência de consumirem a ayahuasca.
Embora não existam números oficiais, uma reportagem da revista brasileira Carta Capital, publicada em outubro de 2022 – e republicada na edição de abril deste ano no Courrier Internacional – estimava “que 80% dos turistas que passam em Pucallpa vêm por causa da ayahuasca”. “A maioria vem de fora, de diversos países do mundo, e tem um poder de compra elevado”, lê-se na reportagem.