A Polícia Judiciária (PJ) deteve, hoje, um italiano, de 62 anos, suspeito de ser um membro da ‘Ndrangheta – a máfia da região de Régio da Calábria, em Itália. Segundo comunicado da PJ, o homem está “indiciado da prática de crimes de associação criminosa, de branqueamento de capitais e de tráfico de estupefacientes”. Na sequência desta detenção foram ainda apreendidos “vastos elementos de prova, documentos, viaturas e dinheiro (cerca de meio milhão de euros), bem como o arresto dos ativos de nove sociedades comerciais, incluindo cinco estabelecimentos de restauração”, refere a nota.
A detenção surge no âmbito da Operação Eureka que, esta quarta-feira, se desenrolou no continente europeu, em países como Itália, Alemanha, Espanha, França, Bélgica, Eslovénia, Roménia, e ainda na América do Sul, em países como Brasil e Panamá.
A cocaína da ‘Ndrangheta entrava na Europa pelos portos de Antuérpia e Gioia Tauro, concluiu a investigação; operações na Península Ibérica eram controladas
pela célula de Málaga
“A operação realizada visou o desmantelamento de uma organização criminosa, de estilo mafioso, conhecida por ‘Ndrangheta, originária da cidade de San Luca, em Régio da Calábria, Itália, sendo reconhecida como a maior organização policriminal italiana, com ligações ao Primeiro Comando da Capital (PCC) do Brasil e responsável pelo transporte e tráfico de grandes quantidades de cocaína para a Europa, tráfico de armas, posse ilegal de armas, fraude e evasão fiscal, branqueamento de capitais e corrupção”, acrescenta o comunicado da PJ.
A nível nacional, a ação policial teve lugar em Braga, Vila Nova de Gaia, Aveiro e Lisboa.
“Duro golpe” na ‘Ndrangheta
A Operação Eureka foi liderada pelas autoridades italianas, em estrita colaboração com alemães, belgas e brasileiras – e contou ainda com a intervenção da DEA [Drug Enforcement Administration], a agência antidroga dos Estados Unidos da América.
A ação policial terá representado “um duro golpe” para a ‘Ndrangheta que, ao longo dos anos, se terá dedicado ao tráfico de cocaína em grande escala, entre a América do Sul e a Europa. As autoridades acreditam que a organização criminosa transportava a droga através da Colômbia (país produtor) – onde trabalhava com o grupo paramilitar Clan del Golfo – e do Brasil, com a participação do famoso chefe da máfia, Rocco Morabito, preso naquele país, em maio de 2021, e extraditado para Itália, em julho de 2022, depois de 23 anos em fuga; onde o aguarda uma pena de 103 anos de prisão.
A cocaína entrava na Europa, sobretudo, pelos portos de Antuérpia, Bélgica, e de Gioia Tauro, no sul de Itália. As autoridades acreditam que a célula desta organização criminosa na Península Ibérica estava localizada em Málaga, Espanha. A investigação aponta que a máfia albanesa também estaria envolvida nesta rede.
A investigação, a cargo da Autoridade Judicial de Régio da Calábria, teve início em junho de 2019, com a participação dos Carabinieri (polícia italiana) e da Policia Federal belga, depois de ter sido localizada uma célula da organização criminosa sediada em Genk, na Bélgica – e que se comprovou estar dedicada ao narcotráfico internacional, entre outras atividades ilícitas.
Ao longo dos anos, várias outras forças de polícia e investigação participariam nesta operação, permitindo que as investigações decorressem em simultâneo na Europa, América do Sul e Estados Unidos da América.
Ainda de acordo com a PJ, “a rede criminosa objeto de investigação, liderada por famílias poderosas da Calábria, estiveram envolvidas durante décadas em episódios de violência entre clãs, com vários confrontos armados em San Luca, que culminaram em tiroteios em massa em Itália e no estrangeiro, com particular destaque para o massacre de Duisburg, na Alemanha, em 2007” – em que, na noite de 15 de agosto desse ano, seis homens, todos originários de Régio da Calábria (à exceção de um, natural de Corigliano Calabro, Consenza), com idades entre os 16 e os 39 anos, foram assassinados a tiro, quando saíam de um restaurante (também) italiano naquela cidade alemã.
A PJ anunciou, esta manhã, que “globalmente a Operação Eureka resultou da detenção de 108 suspeitos”, mas, entretanto, a Europol já elevou o número para 132 detenções, em 10 países, de indivíduos com ligações à ‘Ndrangheta.