“Esta exposição é um primeiro momento de um ciclo de exposições que incidirá sobre o arquivo do Manoel de Oliveira, integralmente depositado na Casa do Cinema Manoel de Oliveira em Serralves. Prevê-se que seja o primeiro de três momentos. Haverá ainda mais duas exposições que darão continuidade a este primeiro momento”, explicou hoje o diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, António Preto, em conferência de imprensa, para apresentar oficialmente a exposição “1. A Bem da Nação (1929-1969)”.
A exposição, que é inaugurada hoje, ao final da tarde, incide sobre os primeiros 40 anos da produção cinematográfica de Manoel de Oliveira – ou seja, situa-se entre 1929, o ano em que se inicia a rodagem do seu primeiro filme, “Douro Faina Fluvial” (1931), e o ano de 1969, que corresponde à época em que Manoel de Oliveira realizou “As Pinturas do Meu irmão Júlio” (1965) e à criação do Centro Português de Cinema, a cooperativa “responsável por um novo fôlego do cinema português e especificamente da produção de Manoel de Oliveira, que obteve o primeiro financiamento”, explicou António Preto, cocurador da exposição, com o cineasta João Mário Grilo.
O primeiro objetivo desta exposição é dar a conhecer o “fragmento póstumo”, acrescentou, por seu turno, João Mário Grilo, declarando que a mostra é “uma espécie de filme não filmado que Manoel Oliveira deixou” através do arquivo que o realizador fez em vida.
Sob o título “A Bem da Nação”, expressão conhecida durante o fascismo português e usado em centenas de documentos oficiais de que Manoel de Oliveira foi destinatário durante a ditadura de Oliveira Salazar, tal como milhões de portugueses, a exposição revela igualmente a totalidade da biblioteca do realizador.
Entre as centenas de livros de Manoel de Oliveira destacam-se obras de literatura portuguesa, como as de Camilo Castelo Branco, Jose Régio e Agustina Bessa-Luís, escritores de referência para a sua cinematografia, a par de obras de literatura estrangeira de autores como Alexander Soljenítsin, e o seu “Arquipélago de Gulag”, a Leon Tolstoi e Fiódor Dostoiévski.
Para João Mário Grilo, esta exposição é um tributo que se presta a uma “figura histórica que é incomensurável em Portugal”.
Em “A Bem da Nação”, a mostra, acede-se à “intimidade” dos processos criativos do realizador, reavaliando as suas dúvidas e as suas convicções, as persistências e inversões de percurso que fazem dele um dos artistas mais irreverentemente inventivos dos últimos 100 anos.
A exposição é um verdadeiro “desarquivar do arquivo”, de “ouvir o que ele nos diz e de mostrar o que ele nos mostra”, esta exposição “é tanto um estaleiro como uma chamada de trabalhos, um ‘work in progess'”, lê-se no dossiê de imprensa entregue aos jornalistas
“É uma obrigação da Casa do Cinema mostrar o espólio do realizador”, observou João Mário Grilo, avançando que a próxima exposição vai ser sobre o filme “Amor de Perdição”, baseado na obra homónima de Camilo Castelo Branco, que classificou como “revolucionário” na história do cinema português, com as suas quatro horas de duração.
A filmografia realizada por Manoel de Oliveiro entre o período 1929 -1969 inclui “Douro, Faina Fluvial” (1931), “Aniki-Bobó” (1942), “O Pintor e a Cidade” (1956), “O Pão” (1959), “Acto da Primavera” (1963), “A Caça” (1964), “As Pinturas do meu Irmão Júlio” (1965).
A exposição “1. A Bem da Nação (1929-1969)” é inaugurada hoje, oficialmente, às 19:00, na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, na Fundação de Serralves, e fica patente ao público a partir de sexta-feira, 17 de março, até 17 de setembro.
Esta é a primeira exposição de um ciclo de intitulado “Manoel de Oliveira e o Cinema Português”, com o objeitvo de dar a conhecer o arquivo do realizador, elaborado ao longo de mais de oitenta anos de trabalho, e integralmente depositado em Serralves.
CCM // MAG