Há diferentes graus de picadas de mosquitos. Para umas pessoas são incómodas por causa da comichão que provocam. Para outras, o incómodo aumenta, pois desenvolvem grandes bolhas, vermelhidão, dor, inchaço… é uma reação alérgica exuberante, mas que muito raramente é sinónimo de gravidade.
Há, no entanto, uma grande parte do mundo onde as picadas de mosquitos são caso de vida ou morte. Em conjunto, doenças como a malária, o dengue e a febre do Nilo ocidental afetam todos os anos 700 milhões de pessoas e matam 750 mil. Investigar o que atrai os mosquitos para certas pessoas, desprezando outras (para felicidade destas “rejeitadas”) não é um “fait-divers” da Ciência; são estudos que podem salvar milhares de vidas.
Na prestigiada Johns Hopkins University School of Medicine, o professor de Neurociência Christopher Potter dedica-se a estudar as fraquezas olfativas dos mosquitos. As suas tentações. Ele é um dos autores de uma nova investigação que conseguiu mapear os recetores, nas células nervosas dos mosquitos, que lhes conferem a habilidade de identificar o cheiro mais saboroso na pele das pessoas – meio caminho andado para uma deliciosa refeição de sangue humano.
“Entender a biologia molecular dos mosquitos é a chave para desenvolver novas formas de evitar as mordidas e as doenças que estas causam”, diz Christopher Potter, citado pelo ScienceDaily. Trata-se aqui de desenvolver um repelente que neutralize estes recetores presentes nas antenas.
Quem morde as pessoas são as fêmeas, mas os cientistas estão a descobrir que os machos também são capazes de se deixar atrair pelos odores humanos. O que os mosquitos detetam na pele são ácidos e aminas, através de recetores ionotrópicos. As conclusões apontam para que seja o grau de acidez da pele que determina a sua irresistibilidade para os mosquitos.
Este estudo está publicado no Cell Reports, um jornal de Ciência aberto a toda a comunidade que publica estudos já revistos pelos pares. Também aí, há seis meses, um grupo de cientistas demostrava numa investigação que os mosquitos são muito poderosos a contornar os nossos repelentes – como, aliás, as habituais “vítimas” tão bem sabem.
Os investigadores aliminaram os recetores do odor do genoma de uma família de mosquitos. E descobriram que, mesmo assim, eles continuaram a detetar o cheiro da pele humana. “Se um humano perde um único recetor do odor, todos os neurónios que exprimiam esse recetor perdem a sua capacidade para cheirar esse cheiro”, explica Leslie Vosshall, uma das autoras do estudo.
Não é o caso dos mosquitos. Eles desenvolveram uma espécie de backup, um sistema redundante que lhes permite estar sempre a cheirar-nos. É caso para dizer: eles andam aí e são muito duros de matar.