Um cometa recentemente descoberto está a passar pelo interior do sistema solar e deverá ser visível a partir da Terra entre janeiro e fevereiro, de acordo com a NASA, a agência espacial norte-americana. A observação do C/2022 E3 (ZTF) em Portugal poderá esbarrar, contudo, nas condições meteorológicas. Caso tenhamos sorte, à medida que se aproxima do nosso planeta, há que procurar a sua exuberante cauda verde. “O ideal é sempre ir o mais longe possível de fontes de poluição luminosa – por exemplo, para uma das reservas Dark Sky situadas no território nacional, ou para uma serra, como a da Estrela ou do Marão”, aconselha Ricardo Cardoso Reis, da comunicação do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.
Nesta quinta, 12, o pequeno corpo rochoso atingirá o periélio (o ponto mais próximo do Sol) e o gelo do seu núcleo passará para o estado gasoso, libertando uma cauda brilhante que refletirá a luz do astro-rei. Estará então próximo da constelação da Coroa Boreal, e será visível por volta da 1h da manhã. “A partir do dia 20 passa a ver-se logo ao anoitecer e nunca passa abaixo do horizonte; entre os dias 27 e 31 passa na constelação da Ursa Menor”, aponta o astrónomo.
A 1 de fevereiro, atingirá por sua vez o perigeu, o ponto mais próximo da Terra, a 42,5 milhões de quilómetros de distância. Estima-se que será neste período que estará mais brilhante. “Estará na constelação da Girafa (Camelopardalis), que infelizmente não tem nenhuma estrela particularmente brilhante, pelo que se não tiver brilho suficiente para ser visto a olho nu, será difícil de encontrar”, . Já a 6 de fevereiro, “apesar de o brilho já estar a decair, será provavelmente o dia em que será mais fácil de o encontrar. Por volta das 21h00 o cometa está praticamente no zénite (ponto do céu ‘por cima das nossas cabeças’), e a cerca de 2 graus da estrela Capella, na constelação do Cocheiro, uma das mais brilhantes do céu à noite”, acrescenta. Para mais informações sobre a localização, a Wikipédia disponibiliza um mapa entre dia 14, sábado, e 16 de fevereiro.
Se o tempo ajudar e a luz lunar não incomodar, é possível que possa ser observado com uns binóculos ou mesmo a olho nu. A questão é saber se o C/2022 E3 (ZTF) irá manter o seu brilho durante o percurso. “Os cometas são imprevisíveis. Citando o famoso caçador de cometas David Levy, ‘os cometas são como os gatos: ambos têm caudas e fazem o que querem’. Isto significa que só saberemos qual o brilho máximo do cometa depois de ele ter passado por nós”, explica Ricardo Cardoso Reis. Neste momento, as melhores previsões apontam para que ele esteja, no máximo, no limite da visibilidade do olho humano, isto é, a rondar a magnitude 6. “Mas com esta magnitude, só será visível a olho nu em céus escuros, pelo canto do olho, como uma pequena manchinha no céu”. Este é, aliás, um velho truque dos astrónomos. “O nosso olho tem dois detetores de luz: os cones e os bastonetes. Os primeiros são sensíveis a variações de cor, mas existem em menor número. Já os bastonetes existem em maior número, são responsáveis pela visão periférica (por isso estão essencialmente localizados no canto do olho) e são mais sensíveis a variações de brilho, pelo que, especialmente para observar objetos difusos no céu, o truque é não olhar diretamente para eles e procurá-los ‘no canto do olho’”, aconselha.
O cometa foi descoberto no início de março do ano passado, quando ainda estava na órbita de Júpiter, pelo programa Zwicky Transient Facility (vem daí a sigla ZTF), que manobra o telescópio Samuel-Oschin no Observatório Palomar, na Califórnia. Deste então, está a ser seguido pelos astrónomos e, segundo os seus cálculos, o período orbital do C/2022 E3 (ZTF) é de 50 mil anos, pelo que a última vez que cruzou o sistema foi avistado pelos Neandertais.