É uma espécie de partida de xadrez, sim, a histórica rivalidade entre estes dois, o pequeno génio argentino e o fulminante português musculado. O norte-americano Bobby Fischer e o russo Garry Kasparov, duas mentes brilhantes do famoso jogo de tabuleiro, transportavam toda a bagagem teórica dos livros, mas quantas vezes não decidiam por instinto o próximo movimento, algumas sem saber ao certo até onde os levaria o atrevimento. A mesma intuição sagaz, tão própria dos campeões, fez sobressair Lionel Messi e Cristiano Ronaldo entre os pares, ao longo da última década e meia, por muito que milhares de treinos os tenham aperfeiçoado física, técnica e taticamente.

Ludibriar o adversário é a essência (e a beleza) de qualquer competição. Quanto mais única e excecional é a forma de o conseguir, mais apreciada se torna. A quantidade de informação processada, ao visualizar as infinitas consequências do passo seguinte a dar, deixa o cérebro de um xadrezista numa roda-viva de possibilidades. De igual modo, a velocidade de raciocínio de futebolistas sobredotados, face ao oponente ou com a baliza à vista, é uma habilidade que os torna especiais. A excelência, depois, só é visível no momento da execução, mais demorada no xadrez, numa fração de segundo no futebol: a precisão das decisões, com os neurónios a mil à hora, é o que separa os grandes mestres dos restantes, sentados a uma mesa, num silêncio religioso, ou a correr sobre um relvado, perante a euforia nas bancadas.