Mais de 90% dos adultos em todo o mundo estão infetados com o vírus herpes zoster. Não admira, ele é o responsável pela varicela, doença que quase todos apanhámos durante a infância.
No entanto, depois dessa infeção, o vírus fica adormecido e pode nunca mais se manifestar. A não ser que se aproveite de uma fragilidade do sistema imunitário para desenvolver zona. Essa reativação pode ocorrer numa em cada três pessoas, normalmente acima dos 50 anos, pois é a partir dessa idade que a imunossenescência se manifesta, deixando as pessoas mais suscetíveis a infeções e suas complicações.
Nos mais novos, ele só ataca quem sofre de debilidade imunológica ou quem tem alguma patologia de base, como é o caso das pessoas que fazem medicação no seguimento de transplantes ou terapêutica oncológica.
Quando a zona se manifesta, há pouco a fazer. “Nas primeiras 48 horas, pode apenas prescrever-se um antivírico e outros fármacos para diminuir a dor e o desconforto”, explica Raúl Marques Pereira, especialista em Medicina Geral e Familiar.
O quadro típico desta doença desenha-se com o desenvolvimento de bolhas, normalmente na zona do tórax, num só lado do corpo, percorrendo o trajeto do nervo em que o vírus ficou adormecido, ao longo das costelas. Os sintomas começam a manifestar-se com mal estar, dor, síndrome gripal, mas em dois ou três dias o diagnóstico torna-se evidente.
O pior é quando, mesmo depois das bolhinhas do tipo da varicela desaparecerem, permanece a nevralgia pós-herpética, uma condição que causa dor crónica que pode prolongar-se por seis meses, o que acontece em 30 a 40 % dos casos – um valor que aumenta exponencialmente com a idade.
“A ideia é mesmo que a doença não apareça”, defende Raúl Marques Pereira, que também dá aulas na Escola de Medicina, Universidade do Minho. “E a única forma de o evitar é através da vacinação. Já existia uma vacina no mercado, mas a sua eficácia era baixa. Com esta nova, a probabilidade de se ficar infetado é baixíssima, mesmo em pessoas com muita idade ou debilidade imunológica”, garante o especialista.
Por enquanto, esta versão recombinante com adjuvante não faz parte das opções comparticipadas pelo Estado, logo é necessária uma prescrição médica e será sempre o utente a suportar o valor de 179,60€. A vacina vende-se nas farmácias e é tomada em duas doses únicas, sem necessidade de reforço.
FALTA DE TEMPO PARA ACONSELHAR
A vacinação em adultos, na Europa, não é muito comum, ao contrário do que acontece quando somos pequenos e alunos exemplares. A Covid veio mudar um pouco a realidade, chamando a atenção para a importância de algumas inoculações.
O médico de família deve aconselhar a que, depois dos 50 anos, se faça, pelo menos, a vacina pneumocócica (que previne a pneumonia), a da gripe e a do herpes zoster. É que, a partir dessa idade, a imunidade começa a baixar e de uma forma muito rápida.
Os resultados de um estudo da consultora Kantar, com o apoio da farmacêutica GSK, sobre comportamentos e atitudes em relação à saúde e bem-estar de pessoas com mais de 50 anos e o papel dos profissionais de saúde no processo de tomada de decisões sobre vacinas, mostra que, em geral, a população adulta está atenta e preocupada com a sua saúde.
A maioria dos inquiridos faz as suas consultas de rotina, procura e confia nos conselhos dos profissionais de saúde acima de outras fontes. No entanto, o estudo deste ano evidencia um desalinhamento entre adultos e profissionais de saúde quando se trata de aconselhamento em relação à vacinação: Ambos concordam na proteção pessoal como principal motivador para fazer as vacinas, mas apenas 44% relatam ter abordado esse tema com os utentes no mês passado.
Dos inquiridos, 65% dos profissionais de saúde concorda que é a falta de tempo numa consulta que impede a discussão sobre vacinas com os doentes adultos. Isto conduz potencialmente a vacinas não administradas, mais doenças e, portanto, mais consultas – um ciclo vicioso que a melhoria das taxas de vacinação poderia ajudar a quebrar.
“As pessoas estão a viver mais tempo e a descobrir que podem realizar mais coisas, especialmente quando beneficiam de um bom estado de saúde. Este estudo revela que a contribuição da vacinação para esse estado é geralmente bem compreendida, tanto pelos profissionais de saúde, como pelos seus utentes adultos. Apesar disso, infelizmente, além das vacinas iniciais da covid-19, as taxas de vacinação de adultos permanecem cronicamente baixas. É necessário melhorar o diálogo sobre quais as vacinas necessárias e por que razão poderiam ajudar, a par de outros hábitos saudáveis, a uma vida mais longa e saudável”, assume Piyali Mukherjee, chefe dos assuntos médicos globais da GSK Vacinas.