Uma investigação realizada por cientistas do Instituto Max Planck de Biologia Celular e Genética Molecular, em Dresden, Alemanha, descobriu que uma mutação no gene TKTL1 pode ter dado uma vantagem cognitiva aos humanos modernos relativamente aos homens de Neandertal.
A partir de experiências em laboratório, a equipa percebeu que a alteração nesse gene, envolvido na regulação do desenvolvimento neuronal no córtex cerebral e que codifica uma proteína que é produzida quando o cérebro de um feto está a ser desenvolvido, aumentou em larga escala o número de neurónios nos hominídeos que precederam os humanos atuais, dando-lhes uma superioridade cognitiva em relação aos neandertais, assim como a outros primatas não humanos.
Os seres da espécie humana extinta homo neanderthalensis tinham o cérebro maior do que os humanos atuais, mas foram sempre associados a uma menor inteligência (apesar de haver estudos que mostram que os homens de Neandertal eram mais inteligentes do que, à partida, se supunha). Contudo, os autores do estudo também identificaram a versão neandertal do TKTL1 em alguns humanos atuais, embora afirmem que seja muito rara e ainda não consigam responder a algumas perguntas, como por exemplo se provoca alguma doença ou problema cognitivo.
Estudos publicados em 2014 que realizaram a sequenciação do genoma de neandertais concluíram que o ADN proveniente desta espécie não se encontra uniformemente distribuído dentro do genoma dos humanos modernos. Numa dessas investigações, foram identificados quase 100 aminoácidos diferentes entre os neandertais e os humanos atuais e foi a partir disto que a cientsita Anneline Pinson e a sua equipa tentaram perceber que alterações genéticas foram contribuindo para uma vantagem dos humanos modernos em relação aos homens de Neandertal e outros hominídeos.
Em laboratório, os investigadores do estudo, publicado este mês na revista científica Science, inseriram as versões humana moderna ou ancestral de TKTL1 nos cérebros de embriões de ratos-domésticos e furões e perceberam que a primeira versão do gene resultou num aumento de um tipo de célula que gera neurónios de uma região do cérebro, o neocórtex, responsável por funções complexas como a memória, a linguagem e a percepção.
Além disso, a equipa também analisou as duas versões do gene em tecido cerebral criado a partir de células estaminais humanas, denominadas organoides, e as conclusões foram parecidas. “Isto mostra-nos que, embora não saibamos quantos neurónios o cérebro Neandertal tinha, podemos assumir que os humanos modernos têm mais neurónios no lobo frontal do cérebro, onde a atividade de TKTL1 é mais elevada, do que os Neandertais”, explicou Wieland Huttner, um dos autores do estudo. Ainda assim, a diferença na produção de neurónios foi mais “dramática” nas experiências com animais em relação aos organoides.
Analisando este estudo, Alysson Muotri, neurocientista da Universidade da Califórnia, em San Diego, EUA, que não esteve envolvido no estudo, disse ser importante testar a versão ancestral do TKTL1 em mais linhas celulares humanas. “Isto foi feito apenas numa linha celular, e uma vez que temos uma enorme variabilidade com este protocolo de organoides do cérebro, seria ideal repetir as experiências com uma segunda linha celular”, afirmou.
Muotri disse ainda que o genoma original dos homens de Neandertal foi comparado com o de um europeu moderno, sendo possível que as populações humanas em agumas partes do mundo possam partilhar a versão Neandertal do TKTL1.