A Polícia Judiciária já veio dizer que não teve nada a ver com o assunto. A PSP negou que os seu agentes tivessem almoçado com Luís Filipe Vieira no dia em que detiveram o ex-presidente do Benfica para interrogatório no caso “Cartão Vermelho”. Já a Autoridade Tributária remeteu-se ao silêncio. Certo é que na manhã do dia 7 de julho de 2021, Luís Filipe Vieira fez uma viagem do Seixal até à sua casa no Dafundo, em Oeiras, que não foi documentada nos autos do processo. Só que um agente da PSP relatou que Vieira foi detido na presença do seu advogado que se encontrava na residência do ex-presidente do Benfica, confirmando assim que Vieira estava no Dafundo, depois de ter acompanhado uma busca no Seixal.
O caso do almoço pré-detenção de Luís Filipe Vieira está a provocar muita polémica nos meios judiciais/policiais, até porque este não é o procedimento habitual quando as polícias têm nas suas mãos um “mandado de detenção e condução” a primeiro interrogatório judicial. Os documentos da operação “Cartão Vermelho” mostram, porém, que existe um hiato temporal entre o fim da busca à casa de Luís Filipe Vieira e a hora da exibição do tal mandado que corroboram a história contada pelo antigo presidente do Benfica, numa entrevista à CMTV.
Na segunda-feira, Luís Filipe Vieira declarou: “Fizeram buscas no meu gabinete, no meu quarto, até nos tetos falsos andaram a mexer. Não sei do que andavam à procura. Fizeram buscas na minha casa, na casa do meu filho. Fui para a minha casa. Almoçaram comigo dois ou três inspetores, na minha casa. Se eu ia almoçar, podiam almoçar comigo.” Ontem, terça-feira, clarificou, dizendo não se estar a referir a inspetores da Judiciária, mas sim elementos da Autoridade Tributária.
Recuando até ao dia 7 de julho de 2021, percebe-se que uma equipa de três elementos da AT (Susana Neves, Jorge Cunha e Sandro Sousa) e cinco agentes da PSP (Valter Santos, Óscar Ricardo, Carlos Esteves, Alcides Bernardes e Nélson Ruivo) iniciaram às 9h50 uma busca ao Complexo Desportivo do Seixal. A diligência foi dada como encerrada às 12 horas, tendo Luís Filipe Vieira assinado o auto de busca.
Praticamente à mesma hora (9h45), duas inspetoras tributárias (Isabel Abrantes e Eugénia Castro), mais Aníbal Almeida (cabo da GNR) e João Antunes (PSP) começaram a busca no apartamento de Vieira, no Dafundo, em Oeiras. Quem lhes abriu a porta foi a mulher do ex-presidente do Benfica, Vanda Vieira.
De acordo com o auto de busca, pelas 12h15, “compareceram no local os mandatários do denunciado Luís Filipe Vieira”, os advogados Manuel Magalhães e Silva e João Gaspar Simões, que acompanharam a diligência até ao fim, tendo esta sido dada como encerrada às 12h30.
A fita do tempo mostra que só às 14h20 é que o chefe da PSP Valter Santos afirma ter dado “cumprimento ao presente mandado de detenção” a Luís Filipe Vieira que, na mesma hora, segundo o Termo de Identidade e Residência, foi constituído como arguido. Mais: o chefe da PSP fez constar que o “mandado foi cumprido na presença” dos mandatários Manuel Magalhães e Silva e João Gaspar Simões, que se encontravam na casa de Luís Filipe Vieira e não no Seixal.
Não existe nenhuma informação no processo que dê conta que Luís Filipe Vieira viajou no Seixal até casa, desconhecendo-se se o fez no seu carro ou se foi conduzido por agentes da PSP que estavam a fazer a busca no Complexo Desportivo do Benfica. Ou seja, terá sido entre as 13h e as 14h20 (contando com meia hora de viagem entre o Seixal e o Dafundo) que Luís Filipe Vieira almoçou com os elementos da investigação que o iam prender.
Ao Observador, a Direção Nacional da PSP reagiu a estas declarações, rejeitando qualquer comportamento menos ético dos agentes: “A Polícia de Segurança Pública apoiou a ação de investigação em apreço e os nosso polícias realizaram estritamente as suas funções”.
A PJ recorreu ao Twitter para se afastar desta polémica: