Cerca de 40 a 50% dos comportamentos do ser humano são hábitos. Ao longo do tempo, as crianças e os adolescentes vão observando e criando os seus próprios vícios: uns bons e outros maus. A psicóloga Cristina Valente é especialista em parentalidade e escreve agora sobre como os pais podem promover ações para que os hábitos os mais pequenos melhorem.
O livro “Hábitos simples para miúdos extraordinários”, lançado este mês, promete ser um manual indispensável para os pais e educadores que têm a missão de educar e mudar o comportamentos das crianças e adolescentes, tornando-os mais autónomos, responsáveis e resilientes.
HÁBITOS SIMPLES PARA MIÚDOS EXTRAORDINÁRIOS:
Super-hábitos de nível 1: super-hábitos de vida saudável (físicos, motores)

Estes hábitos de nível 1, sendo a base de tudo, correspondem, portanto, às necessidades básicas fisiológicas do modelo de Maslow (base da pirâmide), que vimos no capítulo 1. Tal como o ser humano não consegue passar para as necessidades do nível seguinte quando as anteriores não foram satisfeitas, também nos super-hábitos existe a mesmíssima precedência, isto é, mesmo que os pais ambicionem que os filhos possuam hábitos ou super-hábitos de níveis superiores (como, por exemplo, mentais), isso só acontecerá com êxito se o nível anterior estiver a experienciar bons hábitos (neste caso, o corpo físico, correspondente às necessidades fisiológicas).
Os super-hábitos físicos (para além de claros benefícios óbvios no longo prazo) criam uma sensação imediata de estabilidade na vida quotidiana.
Exemplos de super-hábitos de nível 1:
- Atividade física: 30 minutos por dia, faça chuva ou faça sol! Trata-se do maior retorno do investimento de tempo relativamente às recompensas que o seu filho vai colher. Ajude a inverter a tendência das estatísticas (de que cerca de 70% dos menores em Portugal brincam menos de uma hora por dia, ou seja, menos tempo do que os reclusos nas prisões!). Benefícios: imediatos, como mudanças de humor, níveis baixos de açúcar, melhor qualidade do sono, entre muitos outros.
- A primeira refeição do dia, tomada sem gritos nem pressa, sem ecrãs e com música suave: hábito fundamental por causa dos vários efeitos colaterais positivos. Benefícios: fornece «combustível» para realizar as tarefas das primeiras horas, as mais importantes do dia e que garantem sucesso e produtividade; controla a fome emocional típica do final do dia.
- Sono: esta rotina tem de ser respeitada com inflexibilidade (respeite escrupulosamente as necessidades de sono de acordo com a idade do seu filho, como citadas no capítulo 1). Os horários de adormecer e de acordar devem ser sempre os mesmos. Benefícios: maior concentração em tarefas cognitivas; maior controlo emocional, sobretudo das emoções mais intensas; mais equilíbrio do metabolismo, reduzindo a vontade ou apetite por alimentos menos interessantes do ponto de vista da saúde.
Super-hábitos de nível 2: super-hábitos mentais
O nível 2 de super-hábitos permite aprimorar o chamado diálogo interno humano – de que já falámos anteriormente. Embora este seja o nível mais importante de todos, é o mais negligenciado e é por isso que existem tantos problemas de saúde mental, como insegurança, sentimentos de incapacidade e inadequação, ansiedade, depressão, compulsões, entre tantos outros.
O ser humano encontra-se constantemente numa conversa consigo mesmo, desde o momento em que acorda até adormecer. Há investigadores que afirmam que o número médio de pensamentos diários é de 70 mil! Hábitos mentais referem-se assim aos padrões automáticos de diálogo interno que as pessoas repetem para si mesmas de forma inconsciente e de forma continuada. Porém, como as capacidades do seu filho ou aluno são espantosas, incluindo a plasticidade, a flexibilidade e capacidade de adaptação, a criação de super-hábitos a este nível é absolutamente fundamental!
Os pensamentos moldam o mundo emocional e as emoções são elas próprias mecanismos fisiológicos; ou seja, as emoções são sentidas no corpo físico. Portanto, os hábitos mentais também estão profundamente relacionados com a conexão mente-corpo.
É bastante provável que, se as crianças e os adolescentes não tiverem super-hábitos mentais, se inclinem naturalmente para uma visão mais negativa da vida. O ser humano está naturalmente programado para descobrir o negativo em tudo: há milhões de anos, essa ferramenta protegia e garantia a sobrevivência. Portanto, contrariar o negativo obriga a uma tomada de consciência imediata e a uma prática constante.
Exemplos de super-hábitos de nível 2:
- Observar, exteriorizar e contestar: para se adquirir este hábito de alimentar o diálogo interno positivo do seu filho, ele precisa de substituir o seu diálogo interno negativo. O problema com o diálogo negativo de uma criança ou de um adolescente (aquilo que se diz a si próprio baseado nas crenças pessoais) é que ela ou ele acredita no que «ouve»… e age como se fosse verdade! É apenas uma crença (existem muitas maneiras de interpretar os eventos, e algumas delas são mais saudáveis do que outras) que pode não corresponder aos factos. Os terapeutas cognitivos ensinam os pessimistas a confrontar esse tipo de pensamento com um processo de três etapas: observar, exteriorizar e contestar. Ensine-o ao seu filho e pratique-o também:
- Observa o teu diálogo interno negativo, isto é, aquilo que dizes a ti próprio sobre o que acontece à tua volta;
- Exterioriza-o, ou seja, como se fosse algo dito por alguém (que não tu) cuja missão na vida é tornar-te infeliz (sugira ao seu filho que lhe dê um nome);
- Contesta da mesma forma como farias com uma pessoa real (como sabes, os adolescentes têm uma habilidade especial para questionar os outros, portanto podem fazê-lo agora consigo mesmo!).
Benefícios: expansão da consciência; melhoria substancial da sua qualidade de vida.
- Desafiar o pessimismo: as crianças e os adolescentes costumam alimentar muitos pensamentos pessimistas e catastrofistas. «Não vou fazer amigos nesta nova escola. Ninguém vai gostar de mim!», é apenas um exemplo entre tantos outros. Quando os pais pretenderem diminuir o pessimismo nas mentes dos seus filhos, deverão aprender a desafiar quatro padrões de pensamento que levam ao pensamento pessimista.
Permanência: «Isto está sempre a acontecer e vai sempre acontecer assim!»
Absoluto: «Nunca nada dá certo.»
Pessoal: «Comigo acontece sempre isto.»
Impotência: «Não existe uma relação real entre causa e efeito; as coisas simplesmente aconteceram; sou vítima do que aconteceu.»
Benefícios: construir resiliência e autoestima; melhorar o seu desempenho escolar; ter um padrão de sono de mais qualidade; fortalecer o sistema imunitário.
- Integrar os princípios da resiliência: para que o seu filho integre na sua vida quotidiana os princípios da resiliência, ensine-lhe o truque essencial de lembrar-se constantemente de que, tal como qualquer outro ser humano, o que perceciona da realidade é afinal um enviesamento e que é ele que escolhe, deliberadamente, o que decidir. Repita quantas vezes ele precisar de ouvir: o que lhe acontece é muito menos importante do que a história que ele está a contar a si mesmo sobre o que lhe aconteceu! Ajudá-lo a escolher a forma como perceciona os contratempos passa por mostrar-lhe que tudo é:
- Temporário: nada dura para sempre;
- Isolado, em vez de difuso, ou seja, os contratempos não indicam nada sobre qualquer outra situação da vida dele;
- Impessoal. Um contratempo não é o resultado de uma votação sobre o valor do seu filho enquanto pessoa.Algumas coisas que lhe acontecem são apenas azar, um acaso… e poderiam ter acontecido a qualquer outra pessoa. Em muitos casos, ele traz a si a responsabilidade do que aconteceu, porém, ainda assim, isso não indica nada sobre quem ele é (a sua essência ou a sua identidade), mas apenas nos diz como é que ele escolheu agir (comportamento) naquela circunstância específica. A identidade está, do ponto de vista dos níveis neurológicos, acima dos comportamentos. Ou seja, um comportamento não traduz o que uma pessoa é enquanto essência. Por exemplo, se ele teve uma nota negativa no teste de português, isso aconteceu apenas porque não estudou e não devido ao facto de ele ter sempre (incluindo no futuro) notas negativas nos testes escolares.
- Algo que se encontra sempre ao alcance dele para resolver. Talvez o mais importante seja ajudar o seu filho a ver que não é impotente na situação.
Benefícios: aprender a aceitar os erros como lições valiosas; construção de força e de agilidade mentais; alterar o uso quotidiano de expressões pessimistas e trocá-las pelas mais positivas.
- Registar em diário: este é um hábito indispensável. As pessoas de sucesso – incluindo jovens atletas de alta competição e alunos de excelência – no mundo inteiro não prescindem dele. Uma mente mais clara e uma maior autoconsciência propagam-se a todas as áreas da vida de uma forma profunda. Existem muitas maneiras de usar um diário. Aqui estão os três principais usos:
- Recolher ideias espontâneas e incríveis num caderno, num pequeno bloco de notas ou mesmo no telefone;
- Expressar gratidão: a gratidão é um estado de espírito que tanto pode ser demonstrado abertamente como intimamente, ao alterar regularmente a perspetiva do que lhe falta para o que possui;
- Contornar crenças limitantes: se a forma como pensa (ou seja, os seus «hábitos cognitivos») não lhe serve, pode treinar um novo tipo de mentalidade. Uma forma de o fazer é por meio da reestruturação cognitiva. O seu filho deve identificar, a cada semana, um comportamento ou uma crença que atrapalhe a sua vida e trabalhar para corrigir quaisquer distorções cognitivas (ou «erros de pensamento») subjacentes a eles, como já aprendeu acima neste subcapítulo.
Benefícios: uma mente mais clara e criativa; uma maior sensação de leveza e energia; desenvolvimento de um sentimento de riqueza e de abundância interiores, deixando de olhar para a vida como se esta fosse uma inimiga, escassa ou insuficiente; uma mentalidade forte, de crescimento.
Alguns hábitos são mais importantes do que outros porque têm o poder de iniciar uma reação em cadeia, mudando outros hábitos, conseguindo influenciar a forma como as pessoas trabalham, comem, se divertem, vivem, gastam dinheiro, comunicam e se amam.
Super-hábitos de nível 3: super-hábitos de conexão
Este nível corresponde ao nível das necessidades básicas (de Maslow) de amor e relacionamentos sociais. A conexão refere-se à troca de energia emocional entre duas ou mais pessoas. Trata-se de um dos aspetos centrais na vida escolar e espiritual/religiosa, em projetos com propósito ou em trabalhos de equipa de todo o tipo. Importa lembrar que a obsessão que existe atualmente com ecrãs afeta grandemente a qualidade dos hábitos relacionados com a conexão.
Exemplos de super-hábitos de nível 3:
- Inatividade, solidão e silêncio: é imprescindível que o seu filho usufrua pelo menos de 20 ou 30 minutos diários de total solidão e silêncio sem fazer nada ou mesmo sonhar acordado. Este é talvez o maior segredo guardado pelo cérebro, usado há milhares de anos pelos sábios e religiosos de várias culturas que prezam o bem-estar, a plenitude e a felicidade. Curiosamente, para haver conexão com os outros, a criança ou o adolescente tem de aprender a interagir consigo mesmo. Ele deve escolher algo agradável para fazer sozinho diariamente, como ler um livro, escrever ou simplesmente passear.
Benefícios: gerar muita energia; aumentar os níveis de felicidade; melhorar o relacionamento com os outros.
- Servir: ao contrário do que possa parecer, servir não tem de estar relacionado com nada grandioso, mas apenas em servir o outro de uma forma mais pragmática, como, por exemplo, oferecer umas explicações a um colega ou irmão; confecionar uma refeição ou sobremesa para alguém que precise de atenção e carinho; ou preparar um bom brunch para os pais. Lembre ao seu filho que se trata de «serviço ao outro» e não de self-service e que o verdadeiro ato de dar significa não esperar nada em troca. A mudança de comportamento para que o seu filho se habitue a servir não é tão complicada como a maior parte dos adultos acha. Mas tem que existir um método que ajude os pais a implementarem hábitos de tarefas domésticas e vida familiar, de forma a que a criança e o adolescente se sintam motivados.
Como já sabemos, o primeiro elemento do ciclo do hábito é a pista – isto é, uma sugestão (já vimos que existem vários tipos de pistas) que chame a atenção da criança ou do adolescente e que o leve a perceber o que é que tem de fazer imediatamente a seguir (comportamento ou rotina). Naturalmente, as pistas mais óbvias, visíveis e atrativas têm mais probabilidades de serem avistadas e levar assim ao comportamento desejado do que outras que sejam menos visíveis, menos óbvias e menos atrativas. E lembre-se: uma das formas mais simples e confiáveis de mudança de hábitos é a mudança de ambiente físico. Não é por acaso que nos jardins de infância e escolas se usa a metodologia de criar e de assinalar as zonas específicas para cada atividade; a altura do dia ou o horário em que devem ser realizadas; e também o uso das cores e de instruções claras, detalhadas, simples e ilustrativas.
Em casa, por exemplo, podem empregar-se etiquetas codificadas por cores ou diferentes post-its ou outros marcadores óbvios. Uma das melhores formas de ensinar ao seu filho a colaborar com as tarefas domésticas é criar-lhe um hábito. Deve ser um sistema simples de delegação de tarefas que seja justo, revezando-se semanalmente para que todos os membros da família tenham a sua oportunidade de fazer um pouco de tudo.
A ideia base é separar a sua casa por zonas. Cada casa tem as suas zonas. Não existe uma forma única de criar zonas. Podem criar-se zonas com base nas divisões da sua casa ou dividir as tarefas e tipo de trabalho que envolve. Depois de decidir quais as diferentes zonas, precisa de acrescentar tarefas específicas a cada uma delas. Tente manter cinco tarefas por cada zona. Assim torna-se fácil de ver, no início, uma tarefa apenas por dia. Numa folha de papel ou cartaz, pode rotular diariamente cada tarefa (se for diária) ou com o nome do dia da semana em que a tarefa deverá ser feita.
Os quartos individuais devem ser da responsabilidade de cada um e devem ser limpos e arrumados ao fim de semana. Também deve haver uma limpeza profunda de cada quarto de tempos a tempos (defina as semanas de intervalo como pista do hábito).
Exemplo de tarefas
Por assoalhada:
Diariamente: arrumar lençóis e almofadas
Diariamente: arrumar objetos
2.ª e 5.ª-feira: limpar o pó
3.ª e 6.ª-feira: aspirar
Casa de banho:
2.ª e 5.ª-feira: limpar lavatório e armários
3.ª-feira: sacudir tapete e varrer o chão
4.ª-feira: limpar e desinfetar a sanita
5.ª-feira: colocar as toalhas sujas na máquina de lavar
6.ª-feira: deitar o lixo fora
Por tipo de tarefa:
Tarefa: aspirar
2.ª-feira: sala
3.ª-feira: entrada e corredor
4.ª-feira: cozinha
5.ª-feira: sala
6.ª-feira: entrada e corredor
Tarefa: limpar o pó
2.ª-feira: sala
3.ª-feira: cozinha
4.ª-feira: entrada e corredor
5.ª-feira: escritório
6.ª-feira: entrada e corredor
Use cartas ou fichas coloridas: com a descrição simples e detalhada de cada tarefa/assoalhada. Lembre-se de que as tarefas não são um castigo, mas sim uma forma de treinar competências importantes para a vida.
Coloque o quadro num lugar visível. Depois de alguns dias, tornar-se-á natural o seu filho olhar para o quadro assim que chega da escola ou em qualquer outra altura do dia que tenha sido definida (pista). E depois de algumas semanas tornar-se-á num hábito.
As recompensas são fundamentais no processo, pois constituem o terceiro elemento do hábito e podem variar, de acordo com o que ficar combinado: entre celebrar imediatamente (o bolo ou o prato preferidos) ou ter acesso a tecnologia (mais tempo de ecrã).
Rode as zonas: no domingo troque de zonas para a semana seguinte.Comece com uma zona por cada filho até que ele automatize o hábito.
Benefícios para o seu filho: Ensina-o a ser mais independente; ganha orgulho com o trabalho realizado; treina competências importantes para a vida; passa a ser mais cuidadoso com as áreas que ele limpa; conecta-o mais facilmente a outras pessoas, em relacionamentos de maior qualidade; liga-o a algo que está para além do seu próprio mundo interior.
Advertências:
- Seja flexível, sobretudo quando há dias mais cansativos e difíceis, mas o objetivo é que, na maior parte das vezes, o seu filho saiba exatamente o que há para fazer e que o faça;
- Não espere que a rotina funcione todos os dias ou para cada filho e mude se não estiver a funcionar como o previsto. Isso mostra que o adulto está a prestar atenção e a ser flexível. O objetivo é a rotina funcionar para o seu filho, por isso ele deve continuar a fazer até que se torne um hábito;
- Como qualquer hábito, irá ser preciso um pouco de treino e paciência. E, claro, algumas tarefas não poderão ser realizadas por crianças mais pequenas sem ajuda e supervisão.
Super-hábitos de nível 4: super-hábitos de alto nível
O nível 4 refere-se aos super-hábitos relacionados com aprendizagem, reflexão, produtividade e organização e corresponde às necessidades básicas (de Maslow) relacionadas com autorrealização, criatividade, prestígio e reconhecimento.
É crucial para uma criança ou um adolescente encontrar o equilíbrio certo entre pensar demais e não pensar, fazer demais e não fazer. Se fazem demais, paralisam. Se não fazem o suficiente, caem na procrastinação e na desordem.
Exemplos de super-hábitos de nível 4:
- Hábitos de estudo: ter o bom hábito de estudar regularmente está, provavelmente, entre um dos maiores sonhos dos pais e professores. Quando se torna num hábito e passa a fazer parte da programação diária da vida do seu filho (ou aluno), deixa de haver necessidade de se encontrar tempo ou disposição. A rotina simplesmente acontece. Essa rotina tem de ser equilibrada com outras, como, por exemplo, e tal como já vimos, o tempo de brincadeira ou desporto ou de outros hábitos (como, por exemplo, ajudar nas tarefas domésticas). Quando a programação é bem feita, deixa de haver resistência e conflito. A criança e o adolescente só precisam de se comprometer com o seu novo cronograma de estudos e para isso é essencial haver o terceiro elemento do ciclo do hábito: a recompensa. Mas vamos primeiro às pistas.
- As duas pistas mais comuns dos hábitos são a hora (ou altura do dia) e o lugar. Para criar um novo hábito de estudo, pode-se escolher, por exemplo, a altura depois do lanche ou uma hora específica. Para que se instale um hábito, o comportamento associado tem de ser muito fácil de realizar, sobretudo no início. Pode-se, portanto, definir o tempo de apenas 15 minutos para o estudo quando a criança ou o adolescente estiver num pico de alto desempenho – alguns trabalham melhor de manhã e outros ao final da tarde. Testar e experimentar várias opções é extremamente importante para se ver o que funcionará melhor.
- Para além da hora, a outra pista mais comum na implementação de um novo hábito é o ambiente (ou lugar). O ambiente joga um papel não apenas na criação de um hábito, mas igualmente na sua manutenção, por isso deve ser encontrado ou concebido o ambiente ideal para se proporcionar aos alunos bons momentos de estudo. O local de estudo deve ser o mais minimalista possível (de forma a aliviar a carga cognitiva sobre a criança ou o adolescente), luminoso, confortável, silencioso. Na mesa, todos os materiais devem estar à vista: canetas de cor, cadernos. O tampo deve ser espaçoso, sem qualquer distração.
Para além da pista, deve-se definir o comportamento ou rotina (neste caso, estudar) e para tal é fundamental que descubra qual o estilo de aprendizagem do seu filho. Um tema que todos aqueles que lidam com alunos deveriam conhecer a fundo e que não costuma ser tido em conta nem nas famílias nem nas escolas. Ao aprender-se mais sobre este tema (estilos de aprendizagem e sistemas representacionais), será mais fácil tanto para pais como para professores e alunos criarem e manterem os hábitos de estudo, não apenas porque se identifica o comportamento mais adequado, mas também porque esclarece sobre as pistas e as recompensas mais eficazes: o como, o onde, o quando e com o quê (materiais e métodos mais apelativos).
- Hábitos de cidadania: todas as crianças e adolescentes devem aspirar a ser bons cidadãos do país e do mundo. O conceito de cidadania nasceu nas cidades-estado da antiga Grécia, mais especificamente em Atenas. A educação grega, na época, pretendia instruir os cidadãos nos valores e hábitos mentais necessários para se tornarem homens livres, para que participassem ativamente no sistema político que moldou as suas vidas e garantiu as suas liberdades. No entanto, atualmente, as crianças e os adolescentes não costumam ser educados para se tornarem bons cidadãos. Os pais devem assegurar-se de que os seus filhos se apaixonam pela história do seu próprio país – não haverá nada mais importante para que se tornem melhores cidadãos. O facto de se viver em democracia em Portugal contribui para que se aprenda a ser cidadão de pleno direito e pleno dever desde os anos mais precoces, com a ajuda da escola, mas, em primeiro lugar, da família. Quanto mais uma criança ou um adolescente souber o que é o governo, a política e a sociedade civil e como funcionam para ajudá-lo a fazer escolhas mais sensatas… melhor!
- Ensine-lhe que o governo, as instituições e as empresas são compostos por pessoas. E que a história de Portugal foi feita por muitas pessoas comuns e algumas incomuns. Uma forma de ensinar isso é contar histórias sobre figuras históricas e visitar locais onde viveram os antepassados. Faça-o perceber que, como se tratam de pessoas, também cometeram erros, mas que podem não o ter sido no contexto do momento;
- Avive a curiosidade pela história do país (mostrando nomes de ruas, ensinando quem eram essas pessoas, o que fizeram pelo país);
- Visite monumentos, sítios com história, e converse com os locais;
- Experimentem receitas da gastronomia portuguesa, descobrindo a sua origem e variações;
- Pesquisem juntos invenções que mudaram a humanidade para melhor;
- Assistam a desfiles militares;
- Mostre-lhe a importância do Dia da Defesa Nacional;
- Explique-lhe o racional da letra do hino nacional;
- Incentive-o a melhorar a rua onde vivem com pequenos gestos;
- Vibrem juntos com equipas portuguesas (seja de desporto, empresariais, artísticas ou de outras áreas) em eventos internacionais;
- Inspire-o para o pensamento crítico e para se manter bem informado, que aprenda a pensar por si mesmo e a possuir boas capacidades de julgamento: aprendendo mais sobre a história mundial; lendo livros sobre as importantes questões mundiais; biografias de pessoas que ajudaram a moldar o mundo ou assistindo a séries e filmes de qualidade que retratem momentos importantes da história; ou envolvendo o seu filho em organizações e movimentos que trabalhem capacidades de liderança, voluntariado e de fé.
- Mapeamento/registo: o velho ditado «Não pode gerir o que não mede» é verdadeiro também para a ciência dos hábitos. Registar tem tanto de arte como de ciência. Se o seu filho não o fizer, será fácil exagerar, subestimar e errar relativamente a qualquer processo que esteja a implementar. O registo também envia uma outra mensagem clara e poderosa ao subconsciente: «É melhor teres atenção a isto.» Alimentar a mente com dados significa ser capaz de corrigir rapidamente os desvios e atingir com menos esforço o objetivo ou meta a que a criança ou o adolescente se propôs. Ter um diário é importante, porque encoraja o seu filho a anotar o que se aprende e por isso a manter as aprendizagens frescas na mente. Oferece a oportunidade aos mais novos de poderem refletir sempre que precisarem de se motivar e também para notarem os seus progressos – todos sabemos quão comum é esquecermo-nos dos progressos que fazemos e das aprendizagens que obtemos;
- Plano diário: a criança ou o adolescente deve ter um plano detalhado daquilo que espera fazer a cada dia, assim como o que os pais e professores esperam que ele faça – nem que seja apenas um esboço. Um plano para cada dia da semana que o seu filho possa criar ao sábado ou ao domingo relativo à semana seguinte é algo que pode depois ser reajustado diariamente.
- Melhoria diária: a maior parte da aprendizagem é vista como um meio para alcançar um fim (as escolas geram alunos condicionados a olharem para a aprendizagem apenas como uma forma de melhorar o currículo). Mas um programa de aprendizagem autodirigida pode ser uma grande fonte de satisfação. Inspire o seu filho para que ele aprenda algo diariamente, por meio de conteúdos ficcionais ou de não ficção, podcasts, pequenos cursos online ou experiências diferentes. Sempre que ele fizer isso, irá emergir como uma pessoa mais completa e sofisticada.
Em resumo, os quatro tipos de hábitos estão fortemente interligados e reforçam-se mutuamente. Por isso, ajude o seu filho a construir super-hábitos a partir destas quatro categorias para que ele consiga viver uma vida extraordinária!