Corria o ano de 1996 quando uma equipa da NASA anunciou que os compostos orgânicos encontrados num meteorito de 4 mil milhões de anos proveniente de Marte e descoberto em 1984 na Antártida podiam ser sinais de vida marciana antiga.
As dúvidas e polémicas sobre essa possibilidade permaneceram durante décadas entre a comunidade científica mas, agora, um novo estudo publicado na última quinta-feira vem tentar eliminá-las: afinal, esse material rochoso de 2 quilogramas, que recebeu o nome de Allan Hills 84001, não contém evidências de que houve, de facto, vida primitiva no planeta vermelho.
A equipa de investigadores do instituto de investigação Carnegie Institution for Science, em Washington D.C., nos EUA, revelou que as amostras do meteorito, que contêm compostos ricos em carbono, são, na verdade, o resultado da água (salgada ou salobra), que correu sobre a rocha durante muito tempo. Os cientistas explicam que a água subterrânea que correu através das falhas da rocha ainda em Marte foi a responsável pela formação dos cubos de carbono encontrados nela.
E como é que o meteorito foi parar à Terra? A equipa, que refere que os avanços da tecnologia permitiram descobrir mais acerca deste meteorito, explica que ocorreram pelo menos dois fenómenos perto da rocha antes, o que fez com que a superfície do planeta vermelho aquecesse. Um terceiro fenómeno aconteceu e lançou a rocha para o espaço.
Apesar dos resultados deste estudo, Kathie Thomas-Keprta e Simon Clemett, investigadores da NASA que participaram no estudo de 1996, referiram que as conclusões da nova investigação são “dececionantes” e falaram até de “especulação sem suporte”, acrescentando que foi inútil para a tentativa de desvendar “o enigma em torno da origem da matéria orgânica”.
Pelo contrário, a equipa do novo estudo, constituída por cientistas alemães, britânicos e da NASA, elogiou, num e-mail citado pelo The Guardian, os resultados da investigação original, considerando que, para a época, a hipótese de os compostos encontrados na rocha poderem ser sinais de vida marciana primitiva foi “razoável”.
De acordo com os investigadores, esta descoberta, publicada na revista científica Science, pode ajudar a compreender “como a vida começou neste planeta e ajudar a refinar as técnicas” necessárias para encontrar vida em outros locais de Marte, por exemplo. A equipa acrescentou ainda que o objetivo do estudo nunca foi refutar as conclusões iniciais da equipa da NASA.