São moldes de silicone cobertos com pequenas saliências redondas, que podem ser “rebentadas”, fazendo um som estranhamente satisfatório, quase como um plástico de bolhas infinito. Podem ter diversas formas, como animais, frutas ou personagens de desenhos animados. Depois de “rebentar” todas as bolhas, é só virá-lo ao contrário e a diversão continua. Isto quer dizer que o pop-it é um “fidget toy”: um brinquedo anti-stress que pode ser usado tanto para relaxar como naqueles momentos em que não sabemos o que fazer com as mãos.
Produto de uma empresa familiar
Apesar de parecerem uma moda que surgiu do nada, os pop-it não são exatamente uma novidade. O original foi desenhado em 1975, pela empresa israelita de jogos e brinquedos Theora Design. A empresa, fundada pelo casal Theo e Ora Coster, é responsável por mais de 190 jogos, entre eles o famoso “Quem é Quem?”.
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Theo nasceu em Amsterdão em 1928. Foi colega de turma de Anne Frank e conseguiu sobreviver à Segunda Guerra Mundial vivendo com uma família não-judia e abandonando o seu nome de batismo, Morris Simon. Em 1955, mudou-se para Israel, onde conheceu a mulher, Ora. Juntos, fundaram a Theora Design em 1965.
A pequena empresa familiar começou de forma modesta: Theo e Ora produziam brindes para comerciantes de Telavive oferecerem aos seus clientes. Uma das suas invenções mais famosas foi o Icetix: pauzinhos de gelados colecionáveis que podiam servir como brinquedos de construção. Esta criação foi um enorme sucesso: foram produzidos 12 mil milhões de pauzinhos em 11 anos, nos Estados Unidos.
Na altura, a empresa chamava-se “Matat”, que significa “presente” em hebreu. Depois deste sucesso inicial, o casal mudou o nome para Theora Design, uma combinação dos seus próprios nomes. Mais tarde juntaram-se à empresa os filhos de ambos, Boaz e Gideon.
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Uma invenção com mais de quarenta anos
A ideia para criar o pop-it surgiu a partir de um sonho que Ora teve, após a morte da irmã, com cancro da mama, em 1974.
“Ela disse ao nosso pai, ‘Theo, imagina um grande campo de seios, seios de mulher, em que podes empurrar o mamilo.’ Ela era muito aberta e dizia sempre o que lhe ia na cabeça” conta Boaz Coster, que gere hoje em dia a empresa com o seu irmão, Gideon. “Ela disse-lhe: ‘faz um tapete de mamilos que se possam apertar de um lado para o outro.’ E ele fez exatamente isso”, conclui.
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Foram produzidos alguns protótipos, mas não tiveram muito sucesso, em parte porque o tipo de silicone maleável de que são feitos os pop-it hoje em dia não estava amplamente disponível na altura. Foi só mais recentemente que os irmãos Boaz e Gideon decidiram recuperar a ideia dos seus pais, e fecharam acordo com a empresa de jogos canadiana Foxmind.
O brinquedo foi lançado em 2014, e comprado pela marca americana Target em 2019. Mas foram as redes sociais, em particular o TikTok e YouTube, que fizeram o pop-it realmente ‘explodir’. As inúmeras partilhas nas aplicações de partilha de vídeos deram uma enorme popularidade ao brinquedo e impulsionaram as suas vendas.
Afinal, o que os tornou tão populares?
Particularmente curioso foi o vídeo que surgiu de um pequeno macaco a apertar as bolhinhas do brinquedo. O macaco, uma fêmea, chama-se Gaitlyn Rae e vive na Carolina do Norte com os seus donos, Jessica e Paul Lacher. Jessica diz que a primeira vez que viram o brinquedo foi quando alguém enviou um a Gaitlyn Rae, pelo seu aniversário. Desde então os fãs, que adoraram os vídeos, não pararam de os enviar. “Temos caixas e caixas de pop-it”, diz Jessica.
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Boaz afirma que aquela “era a essência da ideia dos nossos pais – e o vídeo atingiu 500 milhões de visualizações”. E a juntar a isso, vendas que se situam entre os 500 e os mil milhões de cópias. No entanto, cerca de 99% das vendas corresponde a cópias do design original. A maioria das lojas que vende estes brinquedos comercializa versões não licenciadas, sendo até mais difícil encontrar as versões das marcas oficiais – Last One Lost e Go Pop!.
Apesar disso, os irmãos Boaz e Gideon mostram-se felizes com a popularidade atingida pela ideia dos seus pais. Ora morreu há alguns meses, aos 90 anos, feliz por a sua invenção se ter tornado mundialmente famosa após tantos anos. Theo, falecido dois anos antes, não viveu para ver o sucesso dos pop-it. O casal foi enterrado no cemitério de Telavive, em duas campas idênticas que se assemelham aos cartões do seu famoso jogo “Quem é Quem?”.
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E que benefícios podem ter?
Os pop-its, tal como outros “fidget toys”, podem ajudar crianças no espectro do autismo, que sofrem de ansiedade ou de dificuldades sensoriais – quando uma criança tem dificuldades em responder a informação proveniente dos seus sentidos, o que pode originar reações negativas a certos estímulos como luzes, sons ou cheiros.
Estão dentro da categoria dos “brinquedos sensoriais” – brinquedos que ativam um ou mais dos cinco sentidos. De acordo com Will Shield, psicólogo infantil na Universidade de Exeter, “os brinquedos sensoriais já existem desde os anos 70”. Diz ainda que “nos Países Baixos, psicólogos têm criado ‘salas sensoriais’ para ajudar crianças com deficiências, com recurso a luzes, sons e objetos com que podem brincar. Isto ajuda-as a acalmarem-se e a relaxar durante as sessões de terapia”.
Assim, brinquedos como este podem ajudar naqueles momentos em que as crianças estão a sentir uma emoção negativa, como medo ou preocupação, e brincar com algo que ativa os seus sentidos ajuda-as a transferir a atenção para longe daquela emoção negativa. Mas os benefícios não são apenas para os mais novos: os brinquedos sensoriais também podem ajudar os adultos, por exemplo, na concentração e atenção – como quando pressionamos repetidamente a tampa de uma caneta para nos concentrarmos enquanto trabalhamos.