Os talibãs afirmam tem detido quatro homens no seguimento da manifestação pelos direitos das mulheres que ocorreu no último sábado, 4. Os homens são acusados de terem agredido as manifestantes e mantido jornalistas com uma arma apontada à cabeça, numa tentativa de terminar o protesto.
A manifestação foi a segunda marcha pelos direitos das mulheres em Cabul, desde que os talibãs tomaram o poder. Teve início no Ministério das Relações Externas e tinha como objetivo terminar no Palácio Presidencial, reivindicando o direito das mulheres a continuarem a trabalhar e terem uma voz ativa no governo. As notícias de sábado dão conta de que as manifestantes foram impedidas de chegar ao Palácio Presidencial pelos talibãs, que as terão dispersado com gás lacrimogéneo e disparos para o ar.
Agora, o The Guardian avança que os talibãs terão detido quatro homens pelas agressões contra mulheres e jornalistas nos protestos. “Eram de um posto de controlo. Maltrataram as mulheres e um repórter da Al Arabiya [site noticioso]. A polícia do departamento de inteligência veio, pôs a situação sob controlo e prendeu-os”, afirmou Zabihullah Mujahid porta-voz dos talibãs ao jornal inglês.
“Não é tempo para protestos enquanto [o controlo talibã] é novo e todos os departamentos estão fechados. Temos testemunhado as explosões no aeroporto. Têm de ser pacientes e esperar que o governo se estabeleça, depois podem fazer exigências. Pedimos às pessoas que não causem perturbações, por si mesmas e pelas autoridades”, continuou Mujahid, quando questionado pelo jornalista se podia garantir-se a segurança dos manifestantes e das mulheres, caso voltassem às ruas.
Os talibãs têm garantido que vão proteger os direitos das mulheres neste novo governo e afastar-se da imagem de brutalidade e opressão que deixaram na última vez que governaram o Afeganistão, entre 1996 e 2001. O anúncio de que todas as mulheres, com exceção das que trabalhavam na área da saúde, deveriam permanecer em casa e abandonar as suas profissões, e as imagens violentas que advieram da manifestação, põem em causa essas promessas.
O rosto ensanguentado de uma das manifestantes tem corrido as redes sociais como prova da violência demonstrada pelos talibãs. “Esta é a nossa irmã Narges Sadat. Infelizmente enfrentou a violência dos talibãs. Isto foi o que lhe fizeram”, pode ler-se no vídeo partilhado no Twitter pela jornalista e ativista iraniana, Masih Alinejad.
Foi ainda reportado pelas manifestantes o uso de gás lacrimogénio e de agressões com os canos das espingardas. Os jornalistas estrangeiros que cobriam a manifestação foram impedidos de o fazer e, com uma arma apontada à cabeça, obrigados a ir para o chão. Há ainda o relato de pelo menos um jornalista ter sido agredido.