O que é a crypto fashion?
A crypto fashion é a criação de roupa, calçado ou acessórios virtuais que, ao invés de serem usados fisicamente, são usados pelo avatar de quem os compra no metaverso, um mundo virtual que replica a realidade através de dispositivos digitais. Os objetos virtuais podem ainda ser acrescentados digitalmente a fotografias ou ser usados através de filtros do Snapchat e são vendidos em NFTs (Non-Fungible Token).
Um NFT, como o nome em inglês indica, é uma coisa não-fungível, ou seja, algo que, apesar de poder ser comprado, não pode ser trocado ou substituído por alguma coisa do mesmo género, qualidade ou quantidade. O que isto quer dizer é que, ao contrário do dinheiro, em que podemos trocar, por exemplo, uma nota de 10 por duas de cinco, o mesmo não pode ser feito com um NFT, porque é encarado como algo com propriedades únicas. Assim, um NFT é, no fundo, um certificado digital de autenticidade, que prova que algo é original e que, como tal, não pode ser copiado nem pirateado.
A crypto fashion é uma forma de credibilizar os criadores pelas suas peças, o que muitas vezes não acontece no mundo da moda, com peças a ser “copiadas” pela indústria de fast fashion. “Considero que conforme o metaverso e o mundo da moda digital crescem, haverá camadas de colaboração e evolução de peças, tornando-se muito importante ser capaz de rastrear esse valor até ao criador original”, explicou à Nylon Dylan Tull, co-organizador da Crypto Fashion Week.
A primeira Crypto Fashion Week realizou-se no início desde ano, em fevereiro, estando a próxima prevista já para setembro. “A moda digital poderá superar as vendas físicas mais cedo do que pensámos. Especialmente agora, durante a Covid-19, as pessoas não estão realmente a vestir-se para impressionar em algum sítio, mas sim na internet”, afirma Lady Phe0nix (nome que usa nas redes sociais), co-organizadora da Crypto Fashion Week, à Nylon.
Chegada às grandes marcas
A aposta na crypto fashion já começa a ser visível, com grandes marcas como a Louis Vuitton, a Burberry e a Gucci a aderir à tendência. Segundo a Reuters, a Louis Vuitton lançou um jogo metaverso, onde os participantes podem recolher NFTs. Também a Burberry criou acessórios NFT da marca para o jogo Blankos Block Party. Já a Gucci criou roupa para os avatares do jogo Roblox. Este negócio também já se mostra rentável para designers independentes e start-ups. Na Decentraland, uma plataforma de realidade virtual, o volume total das vendas de NFTs de artigos para avatares (roupa, calçados, acessórios) chegou aos 750 mil dólares ( 637 mil euros) na primeira metade de 2021, segundo a NonFungible.com, site que acompanha o mercado de NFT.
Hiroto Kai (nome artístico), um jovem britânico de 23 anos, é um dos designers que aproveitou a oportunidade que a Decentraland proporcionou, em junho, aos utilizadores de criarem e venderem as próprias roupas. Em entrevista à Reuters, mostra como conseguiu deixar o seu trabalho numa loja de música para se dedicar à crypto fashion a full-time. Kai, que desenha quimonos japoneses, começou por vendê-los a 140 dólares (118 euros) cada, e ao fim de três semanas já tinha ganhado entre 15 mil a 20 mil dólares (12 mil a 17 mil euros). “É uma nova forma de me expressar e é uma arte ambulante, que é o que a torna tão ‘fixe’”, afirmou.
Uma moda mais sustentável
A crypto fashion é também vista como uma perspetiva para um futuro mais ecológico na indústria da moda. “Se pensarmos nas formas como a moda digital pode eliminar os custos de produção, reduzir custos de fabrico, economizar os custos do uso de aterros sanitários, e, assim, se estivermos a usar [roupa, calçados, acessórios] para nos exibirmos nas redes sociais aos nossos amigos ou para mostrar nos videojogos, então [a moda] pode muito bem ser algo digital porque estes são ambientes digitais”, afirmou Phe0nix à Nylon.
Paula Sello, co-fundadora da start-up de moda digital a Auroboros, viu um problema no que considera ser a moda para apenas ser mostrada nas redes sociais. Em entrevista à Reuters, Sello citou um estudo de 2018 que afirma que 9% dos consumidores britânicos apenas compra roupas para tirar fotografias para as redes sociais e depois devolvê-las. “Precisamos de ter uma mudança na moda agora. A indústria simplesmente não pode continuar”, afirmou, referindo-se à fast fashion. Assim, Sello criou a Auroboros que se destina a acrescentar roupa digitalmente a fotografias enviadas pelos clientes, para estes publicarem nas redes sociais, cobrando entre 60 a mil libras (70 a 1.178 euros).