Gémeos idênticos, Joefred e Ralfred Gregory não eram fáceis de distinguir, mas os irmãos também não facilitavam a tarefa. Aos 24 anos, continuavam a vestir-se de igual e a usar a barba e o cabelo da mesma maneira.
Inseparáveis. Era assim que familiares e amigos os classificavam. E até na hora da morte se mantiveram juntos.
Ambos foram internados na unidade de cuidados intensivos do hospital privado Anand, na cidade de Meerut, a cerca de oitenta quilómetros da capital indiana, Nova Deli. Joefred na cama número 10 e Ralfred na 14.
Joefi, como era carinhosamente tratado, sucumbiu à Covid-19 no dia 13 de maio e o irmão, a quem também chamavam Ralfi, morreu no dia seguinte.
A história comoveu a Índia e tornou-se num símbolo da catástrofe vivida no país. No início do mês de maio, chegaram a verificar-se mais de 400 mil casos diários, mas a média dos últimos sete dias baixou para os 255 mil.
Contudo, na semana passada, o gigante asiático bateu o recorde mundial de mortes registadas em 24 horas: 4 529, ou seja, três mortos por minuto.
Na semana passada, o gigante asiático bateu o recorde mundial de mortes registadas em 24 horas: 4 529, ou seja, três mortos por minuto
Além das redes sociais, também muitos dos órgãos de comunicação social com maior alcance no país, incluindo estações de televisão, replicaram a história dos dois irmãos.
Uma vida em conjunto
Joefred e Ralfred cresceram com os pais e o irmão mais velho na cidade de Meerut, no estado de Uttar Pradesh. Os progenitores são professores na St. Thomas School, uma escola direcionada para a minoria cristã, da qual a família faz parte.
Joefred era três minutos mais velho do que o irmão, mas não havia rivalidade entre eles, garantiu o pai, Gregory Raymond Raphael, ao jornal The New York Times (NYT). “Eles discutiam, sim, mas nunca os vi a magoarem-se um ao outro”, afirmou.
Estudaram na mesma universidade e tiraram o mesmo curso: Ciências da Computação. Planeavam emigrar para a Coreia do Sul ou para a Alemanha, com o objetivo de oferecerem uma vida melhor aos pais. Atualmente, trabalhavam na mesma empresa e estavam ambos em teletrabalho.
Começaram a sentir os primeiros sintomas provocados pelo vírus SARS-CoV-2 no dia seguinte ao seu aniversário, 24 de abril. Nessa altura, já o país vivia uma situação caótica, que implicou falhas graves no abastecimento de oxigénio aos hospitais, que se viram obrigados a recusar doentes.
Ao fim de uma semana, perante o agravamento do seu estado de saúde, os rapazes deram entrada num hospital privado próximo de sua casa. Testaram positivo para a Covid-19 e os pais foram alertados para o estado avançado da doença, que conduziu ao seu internamento imediato na unidade de cuidados intensivos (UCI).
As vacinas e a variante indiana
“O que acontecesse a um, aconteceria ao outro. Sempre foi assim desde que nasceram”, disse o pai dos engenheiros informáticos ao jornal The Times of India.
Uma investigação do Public Health England concluiu que as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca são quase tão eficientes contra a variante detetada na Índia como contra aquela descoberta no Reino Unido
Na manhã de 13 de maio, o nível de oxigénio no sangue de Joefred desceu a uns terríveis 48%.
Nesse mesmo dia, os pais receberam a notícia da sua morte.
Quando a mãe regressou à UCI para visitar Ralfred, o filho não parava de perguntar pelo irmão. Sonja optou por dizer-lhe que Joefred tinha sido transferido para outro hospital, para não piorar o seu estado anímico, mas o gémeo não acreditou.
“Mamã, estás a mentir. Diz-me a verdade”, terá dito, de acordo com o NYT, mas a mãe manteve a história.
Na manhã seguinte, menos de 24 horas depois da morte do irmão, Ralfred também sucumbiu à Covid-19.
A sua história reflete a tragédia de muitas famílias na Índia e no mundo, o que talvez explique o seu impacto na opinião pública.
Joefred e Ralfred foram sepultados como sempre viveram: ao lado um do outro.
Atualmente, a Índia soma mais de 26 milhões de casos e quase 300 mil vítimas, desde o início da pandemia, sendo apenas ultrapassada pelos Estados Unidos da América. No entanto, é possível que os números oficiais subestimem a realidade.
No início deste mês, a Organização Mundial da Saúde considerou a variante inicialmente identificada na Índia – a B.1.617 – como sendo “de preocupação”.
Entretanto, uma investigação do Public Health England, a direção-geral da saúde britânica, que analisou a eficácia das vacinas da Pfizer-BioNTech e da AstraZeneca, concluiu que elas são quase tão eficientes contra a variante detetada na Índia como contra aquela descoberta no Reino Unido. A da Pfizer-BioNtech registou uma eficácia de 88% e a da Astrazeneca de 60%.