Desde a confirmação de que o vírus SARS-CoV-2 se transmite através de aerossóis (partículas invisíveis), os cientistas têm vindo a sublinhar a importância de privilegiar os contactos ao ar livre.
No final do mês passado, foi publicada uma investigação na mais prestigiada revista científica espanhola, a Gaceta Sanitaria, que revê duas dezenas de estudos internacionais sobre o papel da restauração no contágio da doença.
“Há uma grande consistência na literatura [científica] no sentido de apontar o encerramento de locais de comida e de bebida com uma das medidas mais eficazes para reduzir a incidência e a mortalidade por Covid-19”, conclui a análise, que deixa três recomendações essenciais:
- Gerir de forma adequada a ventilação dos espaços interiores de restauração;
- Reduzir a circulação de pessoas de acordo com a situação epidemiológica;
- Encerrar os espaços interiores dos restaurantes em situações de alto risco de contágio.
Um dos autores do estudo, o epidemiologista espanhol Pedro Gullón, acredita que Navarra poderá ser um exemplo ilustrativo do forte impacto que a restauração pode ter na curva epidemiológica, apesar de sublinhar que a evolução do número de infeções depende sempre de diversos fatores.
Há uma grande consistência na literatura [científica] no sentido de apontar o encerramento de locais de comida e de bebida com uma das medidas mais eficazes para reduzir a incidência e a mortalidade por Covid-19
No início deste ano, as autoridades de Navarra optaram por encerrar os espaços fechados da restauração a 23 de janeiro, quando se registavam 445 casos por 100 mil habitantes na região, mas as esplanadas continuaram abertas. Houve um pico de contágios oito dias depois e, a partir daí, as infeções começaram a diminuir.
Este padrão tem-se repetido ao longo dos últimos meses, à medida que os espaços interiores dos locais onde se serve comida e bebida vão sendo sucessivamente fechados e reabertos.
A mais recente suspensão do atendimento no interior começou a 1 de abril, quando se registavam 305 casos por 100 mil habitantes, as infeções começaram a diminuir 17 dias depois e, atualmente, mantêm essa trajetória, já que apenas as esplanadas continuam em funcionamento nesta região do norte de Espanha.
“A evidência internacional indica que o encerramento das áreas interiores destes estabelecimentos é muito eficaz na redução da transmissão”, afirmou o epidemiologista Pedro Gullón ao El País.
Ao mesmo jornal, o vice-presidente do governo regional de Navarra, Javier Ramírez, disse não ter dúvidas de que esta foi uma das medidas mais importantes para controlar a epidemia. “Além de restrições mais profundas, como as cercas sanitárias ou o recolher obrigatório, temos visto que outras medidas mais cirúrgicas, como o encerramento de espaços interiores, têm impacto na redução” do número de casos.
Em Espanha, a incidência acumulada de contágios ronda os 189 por cada 100 mil habitantes nos 14 dias anteriores. As comunidades autónomas com mais infeções são o País Basco (401), Madrid (303), Aragão (291) e Navarra (270).
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, garantiu esta segunda-feira que, dentro de 100 dias, 70% dos residentes no país estarão vacinados contra o SARS-CoV-2.