Feito a partir de pigmentos encontrados na couve roxa, foi descoberto, pela primeira vez, um corante que permite obter a cor azul, entre outras, sem ser necessário recorrer a corantes sintéticos para que seja vibrante. O estudo, publicado na semana passada, foi realizado por uma equipa internacional de investigadores, de diferentes áreas de estudo, de vários cantos do mundo. Institutos como a Universidade da Califórnia, em Davis, a Universidade de Nagoya, no Japão e a Universidade de Avignon, na França, foram algumas das 16 instituições que fizeram parte desta investigação.
“A cor da comida é essencial para a indústria da alimentação e de bebidas, uma vez que influencia muitas propriedades que ultrapassam o aspeto visual, incluindo o sabor, a segurança e o valor nutritivo”, pode ler-se no artigo científico. Encontrar uma solução natural para criar a cor azul era um dos grandes obstáculos desta indústria, havendo inúmeras investigações mundiais com esse objetivo. “As cores azuis são bastante raras na natureza, muitas delas são mais vermelhas ou roxas”, explica Pamela Denish, investigadora da Universidade da Califórnia, em Davis, ao site da universidade.
Apesar de vermos inúmeros produtos alimentares azuis, desde gelados a doces, bebidas energéticas, ou até produtos de cosmética, a maioria destes são produzidos usando maioritariamente dois corantes artificiais. Estes são o “azul brilhante FCF”, usado para o azul ciano, e o “índigo-carmim”, usado para obter uma cor mais escura. O que acontecia com as opções naturais que existiam até agora, produzidas a partir da espirulina (tipo de alga), jenipapeiro (árvore tropical) e gardénia (planta da família do café), é que estas não produzem a cor azul ciano desejada e não se misturam bem com outros corantes. Ter a cor certa de azul é, também, essencial para que seja possível depois obter outras cores do mesmo espetro, como, por exemplo, o verde. Se a cor azul não for a correta, quando misturado, irá dar origem a uma cor castanha, que mais parece lama, explica o professor Justin Siegel da Universidade da Califórnia, em Davis.
Os extratos de couve roxa já eram usados para produzir outros corantes naturais, para cores como o vermelho e o roxo. A estes corantes dá-se o nome de antocianinas. Neste vegetal existe uma antocianina para a cor azul, mas esta apenas se encontra em pequenas porções. O que os investigadores fizeram foi procurar uma forma de extraí-la em maior quantidade. Através de dados existentes na literatura científica, os cientistas analisaram milhões de enzimas (proteínas que controlam a velocidade e a regulação das reações químicas dos organismos) e testaram quais as melhores em laboratório. Com base nesses resultados, e através de métodos computacionais, conseguiram criar a sequência de proteínas ideal, que deu origem à enzima que procuravam. Esta permitiu não só aumentar a eficiência da quantidade de antocianina azul extraída da couve roxa, como a possibilidade de a produzir em grandes quantidades.
Este novo corante poderá, em breve, começar a ser comercializado. Peak B é o nome da start-up, fundada pelos investigadores do projeto, Pamela Denish e Justin Siegel, para esse fim.