Seaspiracy: Pesca Insustentável é o novo documentário original da Netflix. Estreou na semana passada, 24, e já está a dar que falar nas redes sociais, dividindo as opiniões no tema. O filme explora o impacto que a indústria global da pesca tem na vida marinha.
“Um cineasta apaixonado pelo oceano parte para registar a devastação que os humanos infligem às espécies marinhas e descobre uma alarmante rede de corrupção global”, pode ler-se na descrição do documentário. Este cineasta é Ali Tabrizi, um jovem de 27 anos do sudeste de Inglaterra, que é também um dos cocriadores do documentário Cowspiracy: O segredo da sustentabilidade, que tentou demonstrar como a pecuária industrial é prejudicial ao Ambiente.
Seaspiracy conta com a participação de George Monbiot, um dos mais famosos jornalistas, escritores e ambientalistas do Reino Unido, e entrevistas a importantes figuras da Sea Shepherd, uma organização de conservação marinha. No documentário, são apresentadas várias estatísticas para “provar” como a indústria da pesca tem um impacto negativo na poluição nos oceanos, afirmando que 46% do lixo que flutua na “Grande Ilha de Lixo do Pacífico”, o maior amontoado de lixo flutuante no mundo, vem de redes de pesca.
Apesar de só ter estreado há uma semana, o documentário já se encontra nas tendências em vários países (em Portugal, encontra-se em quarto lugar), e tem gerado uma onda de comentários nas redes sociais, quer pela positiva quer pela negativa.
“Vi o Seaspiracy na Netflix ontem há noite. É uma brilhante revelação da maior ameaça para a vida marinha: a pesca. Esta linha explora o porquê de tão poucas vezes ouvimos a verdade sobre o que acontece nos nossos oceanos”, pode ler-se no tweet de George Monbiot. O filme foi também divulgado por várias associações, como é o caso da PETA, Oceans Asia, Sea Shepherd, Marine Conservation Society. Também em Portugal o filme começa a ter repercussões, tendo sido partilhado por Inês Real e Rafael Pinto, ambos do PAN.
Muitos foram, também, os que usaram o Twitter para tecer elogios e expressar o seu choque. “Se tens interesse nos temas de alterações climáticas, poluição, produção de plástico, direitos humanos, animais, combustíveis fósseis, corrupção, ganância corporativa, pessoas indígenas, doenças mortais, derrames de petróleo ou na sobrevivência do planeta, tens de ver o Seaspiracy na Netflix” escreveu um utilizador. “Não tenho vergonha de admitir que só me sentei e chorei. Eu nem sequer como peixe e chorei! Por favor, vejam isto com a mente aberta e com vontade de desafiar as normas sociais que segues quando levas o garfo à boca”, acrescentou outro.
Muitos dizem que o filme os fez tomar a decisão de parar de comer peixe. “Seaspiracy da Netflix é um dos documentários mais horríveis que já vi. Vejam se se interessam pelos oceanos e pelos peixes. Vou parar de comer peixe hoje” pode ler-se. Também em Portugal se começa a expressar esta vontade causada pelo documentário.
No entanto, nem todas as opiniões sobre o documentário são boas. Christina Hicks, uma professora e cientista em estudos ambientais entrevistada para o Seaspiracy, também recorreu à plataforma para demostrar o seu desagrado. Admite mesmo que não sabia o tema do documentário quando deu a entrevista. “É enervante descobrir que participei num filme que atinge uma indústria que amo e à qual dediquei a minha carreira. Tenho muito a dizer sobre o Seaspiracy, mas não digo. Sim há problemas, mas também há progressos. O peixe continua a ser essencial para a alimentação e para a segurança nutritiva em muitos sítios geograficamente vulneráveis”, escreveu. “Eles [no documentário] abordam questões importantes que precisam de ser faladas, mas sem criar uma verdadeira discussão e a conclusão de parar de comer peixe a) não aborda as injustiças sistémicas e b) ameaça os meios de vida e a segurança alimentar”, acrescenta, quando questionada sobre o tema na rede social.
Há, ainda, quem acuse o documentário de racista e elitista, afirmando que tem uma mentalidade de “white saviour complex”, termo usado para se referir quando uma pessoa branca surge como salvador de pessoas de outras etnias, mas de uma forma egoísta e centrada em si própria. “Não vou ver. O racismo e o elitismo exibidos abertamente no documentário (segundo o feedback daqueles que já o viram) é razão suficiente para o boicotar”, escreveu uma utilizadora. “É tudo sobre um grupo de rapazes brancos dos subúrbios a gozar e a ficarem chocados com asiáticos pobres que, nas suas mentes, não sabem mais que aquilo. É uma vergonha. O tópico é demasiado importante para ser gerido por alguém com complexo de salvador”, acrescentaram em resposta.