Falamos da plataforma líder no desenvolvimento de software em todo o mundo e o anúncio foi feito no Twitter, no final da semana passada. Segundo o CEO do GitHub, Nat Friedman, a empresa está mesmo empenhada na mudança. Como quem diz, substituir quaisquer termos que façam referências à escravatura e possam ser ofensivos para a comunidade afrodescendente. Uma decisão que visa, publicamente, apoiar o movimento #BlackLivesMatter.
Assim, o GitHub pretende substituir as terminologias ‘master’ (o que controla) e ‘slave’ (o que é controlado) para outras como ‘principal’, ‘padrão’, ‘primário’ e ‘secundário’. E também trocar termos como ‘blacklist’ e ‘whitelist’ (lista negra e branca, respetivamente) por ‘allow list’ e ‘deny/exclude list’ (listas de ‘permitidos’ e ‘negados/excluídos’).
Mas há mais…
Não é caso único. Desde há algum tempo que a questão se tornou importante também para outros projetos e empresas de código aberto. E uma esmagadora maioria tem vindo a substituir termos considerados sensíveis ou racialmente sugestivos.
Entre eles, o Android Open Source Project (AOSP), a linguagem de programação Go e a Grammarly. Todas substituíram também os termos ‘whitelist’ e ‘blacklist’ para ‘allowlist’ e ‘blocklist’. O mesmo fez também o gestor de armazenamento de arquivos OpenZFS. E o Linkedin vai pelo mesmo caminho, como assegurou Gabriel Csapo, engenheiro de software da rede, no Twitter. Segundo se lê, já solicitou a atualização de muitas das bibliotecas internas da Microsoft para remover quaisquer frases com cariz racista.
…rumo à mudança
“É uma terminologia que reflete a cultura racista mas não só. Também serve para a reforçar, legitimar a perpetuar”, descrevera já um grupo de académicos no Journal of the Medical Library Association, em 2018.
Não que os argumentos sejam novos. Afinal, já em 2003, o Condado de Los Angeles exigira que os fornecedores de hardware não usassem termos “inaceitáveis” e encontrassem alternativas. Ainda assim, até o projeto Drupal, apesar de pioneiro no processo, só em 2014 substituiu a dupla “master/slave” por “primary/replica”.
Agora, falta ainda dizer que este anúncio do GitHub foi impulsionado pela responsável de desenvolvimento do Google Chrome. Una Kravets insistia que trocar o termo ‘master’ por ‘main’ era uma missão para todos. E acabava a lançar um apelo público ao GitHut. “Se isto impedir que uma única pessoa afrodescendente se sinta mais isolada na comunidade tecnológica é inaceitável não o fazer”.
Foi quando Friedman revelou que a empresa, adquirida pela Microsoft há dois anos, já estava a trabalhar no caso.