O canal de televisão alemão ZDF emitiu em 2013 um programa sobre o desaparecimento de Madeleine McCann. Depois dessa versão alemã de um programa da BBC chamado CrimeWatch, chegaram ao canal cerca de 500 chamadas e emails com informações sobre a criança inglesa que desapareceu em maio de 2007 da Praia da Luz. Uma dessas informações apontava na direcção de um homem alemão, que é agora descrito pelas polícias inglesa, alemã e portuguesa como o principal suspeito do rapto de Maddie. Está preso na Alemanha mas vivia naquela altura em Portugal. A polícia alemã vai mais longe e diz mesmo que este homem, hoje com 43 anos, é suspeito não só de ter raptado a menina, como de a ter assassinado.
O Ministério Público de Braunschweig abriu uma investigação por suspeitas de homicídio e a BKA (polícia alemã) divulgou uma extensa lista de elementos numa verdadeira “caça ao homem”. Diz inclusivamente haver indícios de que algumas pessoas – para além do suspeito – poderão saber mais detalhes sobre o crime e sobre onde se encontra o corpo e promete recompensar quem der pistas úteis: “Infelizmente, a nossa investigação leva-nos a acreditar” que Maddie “foi morta”, anunciou Christian Hoppe, da polícia criminal Alemã (BKA).
Para já, o nome deste novo suspeito não foi divulgado pelos investigadores. Um novo programa do canal de televisão ZDF revela, sim, que este homem, alto, loiro, e na altura com 30 anos, está preso na Alemanha por outros crimes, mas já estaria referenciado em Portugal por crimes sexuais. Terá vivido em Portugal entre 1995 e 2007, nuns momentos numa autocaravana, noutros numa casa arrendada na zona de Lagos/Praia da Luz. Sobreviveria à custa de uma vida marginal ligada ao tráfico de droga e assaltos a residências de férias e empreendimentos turísticos. A polícia alemã, aliás, não descarta a hipótese de Maddie ter sido descoberta e raptada sem premeditação no decorrer do que deveria ser um assalto ao apartamento onde dormia com os irmãos.
Na altura da primeira denúncia a envolver este suspeito, em 2013, os dados não terão sido suficientes para levar a investigação avante. Mas agora, novas informações cruzadas com as antigas deixaram as polícias convencidas de que estão a seguir o homem certo. A identidade ainda não foi revelada, mas os carros, telefones e casas que estão associados a este cidadão alemão durante os anos em que viveu em Portugal são agora decisivos para a investigação, que promete boas recompensas em dinheiro a quem oferecer informações úteis sobre estes veículos, números de telemóvel e locais.
A investigação já concluiu que na noite em que Madeleine McCann desapareceu do empreendimento Ocean Club, a 3 de maio de 2007, o telefone português deste suspeito alemão (912 730 680) fez uma chamada na zona da Praia da Luz, para outro cartão pré-pago com número português que não se encontrava naquela zona (916 510 683). Esta chamada terá durado meia hora e a polícia alemã divulgou os números de telemóvel, na esperança de conseguir saber quem era o interlocutor desta conversa telefónica, e se a mesma tem alguma ligação ao desaparecimento de Maddie.
Casas e carros sob suspeita
A polícia alemã BKA também divulgou informações sobre os carros que seriam usados pelo suspeito naquela época: uma autocaravana VW T3 Westfalia com o tejadilho branco e a parte de cima amarela, que em maio de 2007 apresentava uma matrícula portuguesa (o proprietário atual da carrinha é português mas já foi eliminado como suspeito), e um Jaguar XJR 6 vermelho-escuro ou cor de beringela com matrícula alemã, que foi alterada várias vezes ao longo dos anos. Uma das placas era da cidade de Munique, mas a última matrícula conhecida em maio de 2007 veio de Augsburg. A investigação desconfia que este carro terá sido usado para transportar Madeleine na noite do seu desaparecimento e pede informações a quem puder ter visto um alemão a guiar este veículo naquelas datas. Outro elemento que leva a polícia a desconfiar é que a posse deste Jaguar terá mudado de nome, na Alemanha, no dia seguinte ao desaparecimento da criança. Os investigadores dizem conhecer o paradeiro atual destes dois veículos, mas procuram dados fidedignos, fotografias ou vídeos que mostrem por onde circulavam ou estavam estacionados naquela época.
E o quadro não fica completo sem a polícia pedir informações sobre duas casas: uma entre Lagos e a Praia da Luz que o suspeito terá arrendado naquela época e que, segundo o programa de televisão alemão, teria “uma viga de apoio impressionante” na sala; e outra casa, vazia, a poucos quilómetros dali mas mais no interior algarvio, que o suspeito terá usado várias vezes naquela altura.
O Departamento Federal de Polícia Criminal e o Ministério Público de Braunschweig anunciaram oficialmente que estão a investigar este cidadão alemão de 43 anos, atualmente preso por outros crimes, pelo homicídio da criança inglesa que desapareceu sem deixar rasto da Praia de Luz, na noite de 3 de maio de 2007. As autoridades informam que, entre 1995 e 2007, este homem “viveu mais ou menos permanentemente no Algarve, inclusive por alguns anos numa casa entre Lagos e a Praia da Luz”. Durante esse período, terá exercido “vários biscates na área de Lagos, entre outros, na restauração”. Há também indícios de que se terá dedicado a tráfico de droga e a assaltos em hotéis e apartamentos de férias. “Além disso, no passado”, acrescenta a polícia alemã, “já tinha sido condenado a pena privativa de liberdade, duas vezes por abuso sexual de crianças do sexo feminino”, algo que “a maioria das pessoas” com quem contactou não deveria estar a par, diz a BKA.
As autoridades dizem conhecer alguns dos veículos que o suspeito usava na época, vários pontos de contacto e o tal número de telemóvel português, mas pedem a ajuda de todos os que possam ter informações, prometendo recompensar com 10 mil euros quem fornecer pistas que ajudem a investigação. Dizem ser particularmente importante descobrir onde se encontrava o suspeito na data do alegado rapto de Maddie, entre as 21h10 e as 22h.; saber mais sobre o Jaguar XJR 6 de cor escura que usaria nesse momento; sobre a autocaravana branca e amarela com matrícula portuguesa; e sobre a identidade da pessoa com quem manteve uma longa chamada naquela noite.
A Polícia Criminal e o Ministério Público alemão deixam uma série de perguntas, prometem confidencialidade a quem o pedir e deixam um email para onde quem tiver informações pode enviar fotos e vídeos: www.bka.hinweisportal.de. Estas são as questões da investigação alemã:
- Pode fornecer informações sobre os veículos usados pelo suspeito ou viu-os no início de maio de 2007 ou sabe onde eles estavam estacionados durante o período mencionado ?
- Pode fornecer informações sobre os números mencionados ou sobre os seus utilizadores em maio de 2007 ?
- Pode fornecer informações sobre as casas, salas ou outros pontos de contacto mostrados ?
- Permaneceu no Algarve no início de maio de 2007 e ainda tem material fotográfico, como fotos de férias ou vídeos ?
- Entrou em contacto com uma pessoa que esteve ligada aos veículos, prédios e números de telefone mostrados e pode fornecer informações sobre a estadia da mesma no início de maio de 2007 ?
- Já foi vítima de um crime cometido por essa pessoa ?
- Além disso, há razões para pressupor que existem outras pessoas além do autor que têm conhecimento concreto da possível cena do crime e, se for o caso, onde o corpo está localizado. Pedimos expressamente a essas pessoas que relatem e partilhem os seus conhecimentos.
Depois da emissão do programa de televisão feito em colaboração com a polícia alemã, também a polícia inglesa anunciou ter recebido informações sobre o envolvimento deste homem no desaparecimento da criança depois um apelo lançado em 2017, dez anos após o desaparecimento da menina. Ao que tudo indica, as informações recebidas pela Scotland Yard terão depois sido juntas às que tinham sido fornecidas ao canal de televisão alemão, em 2013. Apesar de estarem a trabalhar em conjunto, a polícia inglesa continua a tratar o caso como o de uma criança desaparecida.
A Metropolitan Police identificou mais de 600 pessoas como potenciais informadoras sobre o agora suspeito. “Algumas pessoas devem conhecer o homem que estamos a descrever hoje, o suspeito da nossa investigação. Estou a falar para vocês diretamente. Devem saber, devem estar a par das coisas que ele fez. Ele deve ter-vos contado sobre o desaparecimento de Madeleine. Passaram mais de 13 anos e as circunstâncias mudaram. Este indivíduo está na prisão e sabemos que algumas pessoas podiam temer contactar a polícia no passado. Agora é o tempo para se chegarem à frente. Peço-vos que nos contactem, ou às autoridades alemãs ou portuguesas”, disse perante as câmaras Stuart Cundy, sub-Comissário Adjunto da polícia inglesa.
Esta não é a primeira vez que a Metropolitan Police diz estar no encalce de um potencial suspeito do rapto de Madeleine, mas é a primeira vez que divulga tantos detalhes sobre um deles e as suas ligações à Praia da Luz.
Também a Polícia Judiciária confirmou terem sido “recolhidos elementos que indiciam a eventual intervenção, no desaparecimento da criança, de um cidadão alemão”, de 43 anos de idade, com antecedentes criminais, e que residiu em Portugal entre 1996 e 2007. Informou ainda que os pais de Maddie, que chegaram a ser suspeitos do homicídio da filha, tinham sido informados pela polícia inglesa sobre os desenvolvimentos da investigação.