Nunca se falou tanto de Natureza como agora. Do pulmão verde do planeta, sem o qual a vida humana não é possível. O refúgio onde se carregam baterias e se superam sobrecargas psicológicas e problemas nervosos e convalescenças em tranquilidade e sossego. E, ainda, é na Natureza que se reencontra a inspiração. A neurociência tem uma explicação: a equipa do investigador canadiano Joseph Moran descobriu que o cérebro em repouso continua ativo no modo da rede padrão (default network), onde se geram estímulos mentais nas áreas associadas à reflexão, à harmonia e à paz de espírito.
Percorrer distâncias a pé e experimentar a imersão no verde, cor associada à esperança, converteu-se numa tendência, não tanto por causa das campanhas turísticas (sobretudo nos países nórdicos) mas pelo facto de se começar a perceber que eram um bem de primeira necessidade: na sociedade frenética à escala global, muita gente passa os dias em espaços ruidosos, fechados e rodeados de tecnologia. Para desligar dos ecrãs, do multitasking, das agendas atafulhadas de compromissos, presenciais ou virtuais, e dos problemas quotidianos.
Abraçar as árvores e ser feliz
Os banhos de floresta, que começaram no Japão e dão pelo nome de ‘shinrin-yoku’ (expressão nipónica que junta as palavras ‘banho’ e ‘floresta’), são considerados uma terapia e têm cada vez mais adeptos pelo mundo, portugueses incluídos. A razão é simples: o som da brisa e dos pássaros nas árvores, os raios de luz solar através das folhas, o ar puro, os cheiros das flores, da terra húmida e a sensação de fazer parte da Natureza têm um efeito balsâmico na mente e no corpo, fazendo-nos esquecer das preocupações e excesso de estímulos da vida urbana. Particularmente agora, que se impõe o distanciamento social e a ideia de ir à praia se afigura uma incógnita e uma fonte de dúvidas e de stresse.
Hoje, como há muitos anos, caminhar em espaços verdes e amplos é um ritual contemplativo prescrito por médicos e cultivado por peregrinos e amantes de retiros de silêncio. Num texto de opinião publicado na revista TIME, o diretor da Sociedade Japonesa de Medicina Florestal, Qing Li, destacou os benefícios de andar sem rumo nem pressas no bosque a fim de combater a epidemia do século XXI: o stresse (ainda não se falava da pandemia do novo coronavírus).
Os passeios na floresta reduziam a tensão arterial e os níveis de açúcar no sangue, melhoravam a saúde cardiovascular e promoviam a concentração e a memória
Qing Li , diretor da Sociedade Japonesa de Medicina Florestal , à revista TIME
O imunologista e investigador conseguiu demonstrar que os passeios na floresta reduziam a tensão arterial e os níveis de açúcar no sangue, melhoravam a saúde cardiovascular e promoviam a concentração e a memória, razão pela qual foram integrados no sistema de saúde do país. Em Portugal ainda não é assim, mas uma breve pesquisa na Internet por atividades na natureza em território nacional, é suficiente para encontrar uma miríade de experiências nos mais diversos parques florestais, matas e jardins, com uma popularidade e procura crescentes.
Abraçar as árvores e meditar no meio delas, que há uns tempos seria considerada uma coisa atípica, é hoje algo cientificamente fundamentado, por ter efeitos benéficos no cérebro, reduzindo a hiperatividade mental e facilitando a regulação das emoções. Investigadores da Universidade de Exeter, em Inglaterra, demonstraram que os efeitos positivos das árvores no bem-estar mental perduram no tempo, ou seja, não são comparáveis aos de uma gratificação material, imediata ou aos obtidos com fármacos.
As vantagens da Ecoterapia
João Gonçalo Dias tem 25 anos e é fundador da Breathe Portugal, cuja missão é promover uma relação simbiótica com a Natureza. “Queremos proteger o que amamos”, afirma, num tom convicto, próprio de quem tem uma história no bolso para contar. Aconteceu há cinco anos: tinha frequentado o primeiro ano de Biologia na Faculdade de Ciências de Lisboa e, depois do primeiro semestre do curso de Marketing, foi para o Brasil, num intercâmbio universitário e permaneceu lá.
A ansiedade e os bloqueios mentais desapareceram quando deixei de procurar respostas e as encontrei ao sentir-me parte do Todo
João Gonçalo Dias , fundador da Breathe Portugal
“Tinha acabado um relacionamento, sentia muita ansiedade sobre o meu futuro profissional e a pensar demais”, recorda. Em vez das saídas noturnas, pesquisou parques naturais e selvagens na Internet, elegeu alguns e partiu para o terreno. A decisão mudou-lhe a vida. Começou por Florianópolis. Esteve em vários ecossistemas, do Cerrado (junto a Brasília) à Mata Atlântica (perto do Rio de Janeiro). “A ansiedade e os bloqueios mentais desapareceram quando deixei de procurar respostas e as encontrei ao sentir-me parte do Todo”. Descobriu o conceito de Ecoterapia, que veio a ser a bandeira da Breathe Portugal, que organiza experiências na Natureza com ações de consciência ambiental.
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E atividades de atenção plena (Mindfulness). “Já tivemos clientes de mais de 45 países e fizemos um passeio em fevereiro com a equipa interdisciplinar internacional do World Wildlife Fund”, afirma, satisfeito. E não é para menos: nas experiências do site Airbnb, o projeto está no grupo dos melhores 10% a nível mundial na categoria das que promovem a ligação humana. O passo seguinte é fazer visitas de estudo em escolas já no próximo ano letivo, não esquecendo os programas de team building e prevenção do burnout.
Agora, que é preciso retemperar forças e readaptar-se globalmente ao novo normal, com stressores a surgirem em várias frentes, encontrar harmonia e ambientar-se ao necessário espaço entre nós, e dentro de nós, é um imperativo e uma excelente oportunidade para passear no meio do verde.